terça-feira, 27 de setembro de 2016

A CURIOSA HISTÓRIA DO GALLO NERO



O Gallo Nero é a chancela que qualifica os vinhos da região de Chianti. Exposto nas garrafas, o vinho que leva esse selo recebe um certificado de qualidade. Durante a minha viagem pela região, tive a curiosidade de conhecer a história que gira entorno desse galo.

A antiga lenda teve origem no século XII, época das épicas lutas medievais entre as cidades de Florença e Siena que disputavam a região do Chianti.
Senesi e Fiorentini, donos das regiões litigiosoas, resolveram a questão de uma forma muito curiosa e, de certa forma, engraçada. Decidiram disputar os limites das cidades através de uma prova inédita e amistosa entre dois cavalheiros, onde cada um usaria as cores referentes à sua cidade.
Para a amigável disputa, cada cavaleiro partiria de sua cidade ao cantar do galo e a fronteira de Florença e Siena seria definida quando os dois cavalheiros se  encontrassem no meio do caminho entre as duas cidades.  Ou seja, aquele que mais corresse aumentaria sua terra.
Na véspera da corrida, o Siena escolheu um galo branco e Florença um galo preto. Siena, a fim de deixar o seu galo mais feliz e nutrido, encheu seu papo de comida, pois imaginava que bem alimentado, o galo branco iria cantar antes que o outro. Já Florença não alimentou seu atleta.
No dia da disputa, o galo negro de Florença, desesperado de fome, começou a cantar antes do sol nascer, enquanto o galo branco de Siena ainda dormia de papo cheio.
Os cavalheiros partiriam cada um do portão de sua cidade. O cavaleiro de Florença começou o galope com o canto do galo preto, enquanto o cavaleiro de Siena teve que esperar muito tempo até que o galo branco com azia e empanzinado de comida, tivesse coragem de abrir o bico.

Região de Fonterutoli

Os dois cavaleiros se encontraram a apenas 12 km dos muros de Siena, no município de Castellina, local que passou a ser chamado Croce fiorentina, e assim a República de Florença conquistou uma grande parte da região de Chianti através de uma disputa pacífica.
O acordo entre as cidades foi honrado e as fronteiras das duas ficou sendo ali mesmo, no local de encontro dos cavalheiros. Quase todo o território entre Florença e Siena ficou sob o domínio da República Florentina. Hoje, a região é responsável peça produção dos famosos vinhos Chianti que recebem o selo do Gallo Nero, que são fabricados com rígido processo, qualificando-o pela superioridade.
A história que emoldurou a lenda do galo Nero revela uma sabedoria enorme e prova que nem sempre uma disputa precisa ser marcada por sangue e morte.  Quanto ao galo branco, deve ter sido servido no banquete da vitória de Florença.
Mas, por que me lembrei desta história? Ora, meu pai hoje descansando em casa gosta de conversar comigo sobre muitos assuntos e, de preferência, aqueles que lembram sua juventude e nossa terra.
Até 1984 o distrito de Varjota, então Araras pertencia ao município de Reriutaba, nossa cidade natal.
Meu pai sempre gostava de elencar o assunto: “ Araras passou de Reriutaba”, "o comércio de lá é mais desenvolvido, a feira é maior e o dinheiro vai mais para lá do que para cá!"
E daí, enveredava a dizer que o povo do Araras é mais trabalhador, o de Reriutaba mais acomodado. Não queria de forma alguma minimizar-nos. Apenas achava que o povo de Reriutaba era mais família, enquanto o do Araras era mais comércio. O Luiz Castro, seu velho amigo de infância era o prefeito àquela época do projeto de emancipação do Araras (atual Varjota) e, juntamente como outros líderes locais não fizeram muita questão em aumentar o limite de Reriutaba, pois entendiam que a parte mais valiosa do município era o pé-de-serra e não a futura área irrigada do Araras-Norte. Enquanto os políticos e líderes do Araras, capitaneados pelo Gentil Pires, Neto e Pio foram mais florentinos. Tanto é que o limite entre os municípios de Varjota e Reriutaba fica tão somente a cerca de 3km de Reriutaba e a 9km de Varjota. O galo do Araras correu mais cedo.
Esta resenha não mitiga o legado político de nossos líderes de então. Mas, este fato é apenas uma analogia pontual de limites territoriais. As duas cidades são irmãs e as comunidades vivem em pacífica harmonia.
Luiz Lopes Filho,
Fortaleza, 28/09/2016