quarta-feira, 6 de maio de 2015

Invasão do quartel

Luiz Lopes - Sobreira - Cavalcante - Cel Locarno - Feitoza - Coelho - Studart - Thelmo - Paulo

Pulando o muro do colégio

Amanhecia o dia 12 de abril de 1982. Era uma segunda-feira pós Semana Santa. Um dos poucos feriados em que viajava para meu interior, para o conforto de minha casa, para o colo de meus pais. Não havia a facilidade dos tempos atuais para percorrer trezentos quilômetros: ou submetia-se a bordo de um surrado ônibus durante oito horas sobre caraquentas rodovias ou embarcava cedo na estação João Felipe para conseguir um assento e aguentar 8 horas no férreo balançar do trem.
Mesmo assim, havia atrasos e baldeações, principalmente em tempos de muita chuva devido ao arrasto de bueiros pelas correntezas de março.
Pois foi naquela data que as turbulências de uma sofrida viagem fizeram-me chegar atrasado à Fortaleza. Quando desembaquei na estação de Antônio Bezerra, já eram seis horas da manhã. E então: como entrarei no Colégio Militar, já que o horário limite era 6:45h? Certamente perderia o dia de aula e, logicamente, pontos no boletim! Suava mais que meu dileto amigo Júlio. Rapidamente vesti a farda, poli a fivela, ajeitei o quepe cáqui e saí correndo para a Casa de Eudoro Corrêa. Pela Santos Dumont,  o corpo da guarda era um paredão à minha entrada. Arrodeei o quarteirão do colégio e, pela Costa Barros empurrei o portãozinho da escola municipal anexa ao quartel: estava aberto! Primeira barreira vencida, subi sorrateiramente dois degraus, espiei pela fresta da porta metálica que confrontava com o pavilhão da 3ª Companhia, a Soberana. Silenciei-me, prendi a respiração e num arranque de 500 cavalos, cruzei meia dúzia de soldados que varriam distraidamente o áspero asfalto.
Quando ouvi os gritos dos recrutas, alertando a entrada do aluno invasor, já estava além da cantina. Avistei, conversando à frente das salas de aulas,  uma meia dúzia de 3 a 4 monitores (assim dizia um velho sargento da época, orgulhoso da "correta" quantificação em português).
- De onde você vem, aluno? Bati continência e, calmamente disse: - Do banheiro, o professor me autorizou! – Recebi aliviadamente a continência de volta do Sargento Monteiro! Pronto! Segunda barreira vencida! Segui em frente.
E agora? Como vou entrar na sala de aula? O professor vai me autorizar? Algum colega gaiato vai me dedurar? Ajeitei o quepe cáqui e, interrompendo a aula de matemática, posicionei-me em sentido, batendo continência: - Com licença, Coronel Locarno, posso entrar? E, com seu semblante sereno e altivo, o saudoso professor sorriu, autorizando minha presença.
Puxa, quem de nós faríamos hoje tanto sacrifício para assistir a um dia de aula? Para evitar uns pontinhos negativos em sua agenda?
Este é nosso Colégio Militar que nos lapidou para a vida, para o respeito aos mais velhos e de maior patente, para sermos orgulhosos e humildes, fortes e serenos no momento certo e em simbiose com o tempo, vetor maior que rege nossas vidas.


Luiz Lopes-392