quarta-feira, 29 de abril de 2015

Mr Hull


Mr Hull
Na foto acima, ao centro, o Prof Julian Hull.

Francis Reginald Hull










           Em 1984 estávamos no segundo científico, mais especificamente na sala de geografia que se distinguia das demais por ter uma configuração de cadeiras em anfiteatro com uma proteção lateral de madeira em mogno torneado, bem como dispor de globos terrestres, mapas e melhor material didático.
               
                Lá no palco, em plano inferior estava nosso saudoso professor Julian Hull, voz fanhosa e britanicamente envaidecida pelo sobrenome que carregava. Discorria com propriedade no tema pluviometria e seu termo predileto era zona de convergência intertropical, fator principal da ocorrência ou não de chuvas em nosso semi-árido.

                Quando contava uma piada, todos riam; às vezes nem por engraçada achá-la ou mesmo compreendê-la, mas principalmente para gozar de uma faltante parcela em sua faixa dentária escondida pelos quatro dedos da mão direita do velho mestre.

                Certa vez, quando todos já haviam cessado as gargalhadas, nosso colega Valdir, no fundo mais alto da sala, continuava a festa. De imediato, notando que o aluno ria pejorativamente, o prof.Julian bravou dizendo: - Desce do poleiro, subnutrido! Sai p’rá fora, aluno! (........pausa...). Todos reiniciaram a gargalhada. Foi quando o aluno Newton (salvo engano) disse: - Isto é pleonasmo, mestre! Quem sai, já sai prá fora!.....(silêncio) Ao que o professou retrucou vermelho de raiva: - Sai prá fora tu também, aluno! E todos riam com a mão na boca, escondendo a gargalhada como assim fazia nosso mestre, escondendo a banguela.

            Mas, o saudoso professor Julian Hull tinha sua competência didática, era professor universitário bem conceituado e também muito esnobe por ser filho de um famoso engenheiro britânico, Francis Reginald Hull, mais conhecido como Mister Hull, que veio ao Brasil e construiu em São Paulo, Ceará e Bahia as primeiras estradas de ferro. 


                Precisamente no ano de 1913, Mr. Hull fora designado superintendente da Rede de Viação Cearense e passou, em muitas situações, a fiscalizar pessoalmente algumas obras de construção e reparo na própria ferrovia. Com ele vieram vários outros engenheiros da Inglaterra e um deles era homossexual enrustido. O dito cujo sempre que ia pronunciar a palavra “bitola”, que significa a distância entre dois trilhos, pronunciava “baitola”. Ora, era uma gargalhada geral no meio da molecagem cearense!  O sujeito já tinha trejeitos afeminados e ainda falava daquele jeito enrolado, típico dos gringos; ora, não dava outra, senão ser motivo de brincadeira da peãozada. Daí o neologismo surgido nos trilhos cearenses: baitola!

                   Ao professor Julian Hull e a seus amigos, estas são apenas palavras de carinho para o velho Mestre. A ele, nossos agradecimentos e nosso respeito por sua sabedoria, competência e porque não dizer, vaidade!

Lopes-392