quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Nestes Últimos 30 Anos.

Meus momentos pelos últimos 30 anos.

Em 07 de janeiro de 1985, há exatamente 30 anos ingressava em meu primeiro emprego como bancário aprendiz neste banco de desenvolvimento. Foi um período difícil, tendo que conciliar o curso de habilitação bancária com a conclusão do segundo grau. Havia saído do Colégio Militar de Fortaleza e estava numa turma de alunos dali egressos e agora estudando no Colégio Geo Batista, um mix de pré-vestibular do Geo-Studio, Master e Batista.

Havia outro problema. Meu pai não concordava com minha decisão de ir trabalhar em banco, quando já havia garantido minha admissão para as escolas militares: Aman, Escola Naval e Academia da Força Aérea. Havia ainda naquela época uma certa tendência de os pais quererem que seus filhos seguissem a carreira militar, talvez por resquícios presentes dos governos militares, talvez pela segurança e status ainda presentes nas insígnias dos oficiais das forças armadas.

Não sei se minha decisão me empurrou para um destino melhor ou pior. Talvez tenha sido melhor adotar o banco como meu trabalho e conciliar com o curso de engenharia civil. De certa forma, esta simbiose laboral deu certo.

Trabalhava na área de processamento de dados de cinco da tarde às onze da noite e tinha o dia todo para cursar engenharia na UFC e também para estagiar na construção de um edifício lá na rua Monsenhor Bruno. Houve um período que trabalhava de madrugada de 23 às 7 da manhã, dali seguia para a UFC pela manhã e estagiava durante à tarde, prosseguindo na cultura alemã até dezenove horas.

Restavam-me 3 horas de sono por dia. Esta rotina me presentou no final com uma pneumonia aguda que quase me acaba. Era um corre-corre, mas valia a pena não ter tempo para nada.

Graduamo-nos em engenharia civil em 1990 numa época de restrição de financiamentos habitacionais e de carência de empregos, minimizando oportunidades de emprego imediato na construção civil.

No banco, havia um caminho para seguir carreira técnica e na minha área. Por sorte, saíu o edital para concurso interno para engenheiros e arquitetos. Com a aprovação, passei a exercer atividades técnicas no banco como engenheiro civil, construindo novas agências,  reformando prédios antigos e também preservando-os com boa manutenção.

Em mais de setecentas viagens, percorri milhares de quilômetros seja por terra, água e ar, de Norte a Sul, de Leste a Oeste,  mas trilhando com maior frequência pelo Nordeste. Acompanhei e fiscalizei muitos projetos financiados pelo banco: siderúrgicas, indústrias têxteis, fábricas de cimento, jazidas de granito, indústrias de reciclagem, estradas, ferrovias, usinas eólicas, galpões industriais, shoppings centers e creiam, até construção de cemitérios e crematórios modernos. Também participei de muitos cursos de aperfeiçoamentos proporcionados pela empresa, dando-me a oportunidade de saber um pouco do quanto nada sabemos.
Urucuí-PI (atravessando o Rio Parnaíba de balsa)


Pelos idos de 1992 estava reformando uma agência em Codó-MA, quando caí de uma coberta de mais de 8 metros de altura. Por sorte fiquei preso na estrutura de madeira do prédio e foi este meu primeiro acidente de trabalho.

Ainda em 1992 por diversas vezes, participei do Fora Collor. Isto porque ficava em Brasília aguardando um vôo durante todo o dia e, neste interim, ía para as manifestações Fora Collor. Acho que ía mais olhar as belas caras pintadas das universitárias brasilienses. Estava acompanhando a construção da agência do banco em Corrente no sul do Piauí. Ali naquela região do Gurguéia. Mas, para lá chegar não havia acesso melhor senão pela capital federal. Assim, pegava um vôo até Brasília cedinho e ficava lá o dia todo aguardando um vôo regional pela companhia Brasil Central: um bimotor turbo-hélice EMB-120 Brasília da Embraer que comportava aproximadamete 18 passageiros. Vôo conturbado que pousava após de duas horas de turbulências em Barreiras no oeste baiano. De lá, seguia por via terrestre. Parecia que nunca chegaria ao destino.
Vôo da Nordeste-Varig (Petrolina-PE)

Em 1994 passei um período na Bahia, acompanhando empreendimentos industriais em Salvador e região metropolitana. Fui até a Caixa Prego, sim é verdade e não é somente adágio popular. O nome correto do local é Cacha Pregos, uma pequena vila de pescadores localizada no município de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, no estado da Bahia.  A Praia esta localizada do outro lado da ilha de Itaparica em relação à cidade de Salvador. É possível chegar através de uma ponte (Ponte do Funil) que liga o município de Vera Cruz ao município de Jaguaripe no continente, ou tomando transporte marítimo a partir de Salvador e seguindo pela estrada a partir do terminal marítimo de Bom Despacho.

Em Salvador ficava hospedado na Praia de Jardim de Alah, pois o hotel era modesto e ficava próximo à orla e ao restaurante Yemanjá....pense no melhor prato de lá?!. Foram muitos dias em terras soteropolitanas.

Em 1995 fui acordado numa pousada familiar pelo fuçar de um animal. Não havia mais aposentos e, ao chegar tarde da noite, a dona da pousada me disponibilizou uma rede na varanda. Pulei assustado às seis da manhã com uma porca me catucando pelo fundo da rede...Meu Deus onde vim parar?! Estava em Catolé do Rocha na Paraíba.

Em 1995 fiquei hospedado numa escola pública cercada por policiais protegendo os hóspedes, pois naquela semana haviam assassinado o juiz e o promotor daquela cidade pernambucana e a cidade estava cercada por traficantes daquelas plantações marginais do Velho Chico. Estava em Floresta-PE e muito assustado. Meu Deus, o que estou fazendo aqui???.  Naquela noite ainda saímos escoltados pela polícia local para jantar numa pizzaria. Pedi o cardápio quando o garçom me retrucou de imediato: “Só tem carne di bodi”. Égua, o que estou fazendo aqui??

Em 1996 fazia um roteiro misto:  aéreo até Juazeiro do Norte num bimotor Caravan da antiga companhia cearense TAF e de lá percorria Salgueiro, Serra Talhada, Garanhuns, Arcoverde durante toda semana a serviço. Lá pela 6ª feira chegava em Recife e resolvia passar o final de semana por lá em farras merecidas.

Mas onde mais aterrisava era em Teresina e São Luís. De lá muitos roteiros terrestres fiz, conhecendo cada metro de estradas piauienses e maranhenses. Adorava retornar à Teresina e aguardar um velho VASP que vinha de São Paulo e pousava às 23:55 já pronto para voltar à Fortaleza. Meus amigos do Piauí me apresentaram a famosa Beth Cuscuz onde vez por outra por ali passava....em segurança e cautela, claro.

Em 1994, estava em Esperantina no Piauí quando conheci um velho senhor representante de produtos de um famoso moinho cearense e que se dizia amigo de conhecidos meus. Ofereceu-me carona até Teresina, onde iria embarcar naquele dito vôo da VASP para Fortaleza. Fui até a agência do Banco e lhe emprestei 200 reais, pois alegava que seu cartão estava desmagnetizado e me devolveria o dinheiro ao chegar em Teresina. Geraldo era o nome deste sujeito malandro que escondia sua má índole por trás de sua terceira idade. Resolveu me pedir mais 200 reais ao chegar em Teresina, pois o cartão doutro banco também não estava funcionando. Hesitei, mas quando ele me entregou um envelope com mais de vinte mil reais em cheques para entregar à sua esposa ao chegar em Fortaleza, resolvi ampliar seu crédito. Foram-se quatrocentos reais emprestados a um estranho que se dizia conhecido e amigo de meus amigos. Que farsa dele e quanto ingenuidade e presteza gratuita aquela minha. Na realidade eu estava vivenciando meu momento de abestado e tolo. Todos nós já passamos por tolos um dia e este foi meu dia. Quando entrei no avião, parecia que tinha acordado do tolo momento. Sentei ao lado de uma amiga que vinha de Brasília no mesmo vôo e me disse:  Luiz, abre o envelope! Tu fostes enganado! E ainda disse: - Não, não vou abrir correspondências dos outros. Vou entregar os cheques à sua esposa. No outro dia, já em Fortaleza, quando fui atrás da esposa do meliante, descobri que era sua ex-mulher e logo ela me passou a ficha suja do velho estelionatário. Nada havia dentro do envelope a não ser várias folhas em branco de um caderno espiral . Enraivecido, consegui descobrir o endereço da mãe do elemento que ficava na Rua Tereza Cristina. Ameacei denunciar à Polícia  e sua irmã ainda me ressarciu metade do empréstimo. É muito ruim ser enganado e ainda mais daquela forma......Passei vários meses a ser zombado pelos tios com o seguinte jargão: Luiz Filho, sou o Geraaallldoo, me empresta 400 reais que te pago depois.!!! Aprendizado!! Esta foi minha rubrica para contabilizar este prejuízo mais de raiva do que de cunho pecuniário.

Em 1995 no retorno de um congresso, fizemos um pouso forçado no aeroporto de Florianópolis após mais de 1 hora de turbulências entre Foz e Floripa. Foram muitos gritos e vômitos pelo hall da aeronave, caíram máscaras, gente gritava. Uma turbina havia se ido. Olhava para o amigo ao lado e o via rezando, olhava para frente e via outro chorando. Rezei e pensei....acho que sou muito novo para isto. Enfim chegamos em Florianópolis. Todos desembarcaram naquele aeroporto. Somente eu e mais cinco amigos prosseguimos viagem até Fortaleza. Passamos por mais uma prova de ar. Graças a Deus!

Costumava ir por ferryboat  de São Luís até Pinheiro na baixada maranhense, terra natal do velho Sarney. Foi ali que presenciei o maior número de urubus por metro quadrado de céu. Um solitário e adormecido vira-latas estava de boca aberta, talvez exalando mal hálito quando um monte de urubus quis içá-lo como uma carniça abandonada. O pobre do cachorro acordou desesperando gritando "caiimm, caiiimm" pelas ruas de Pinheiro. Os populares não contiveram a gargalhada daquele sinistro momento canino.

Na foto abaixo, tanque vazio na imensidão do sul do Maranhão, próximo à cidade de Balsas. E agora como conseguiria gasolina?

Na foto acima, vistoriando a ferrovia Transnordestina em Salgueiro-PE.

Certa vez em Barra do Corda-MA fiquei hospedado numa pousada de um macumbeiro. Acordei por volta de 2 da manhã assustado com uns lamentos e tambores. Deitado, entreolhei a porta do quarto e observei  a luz do poste brilhando pelos combogós e refletindo pontualmente o crucifixo fixo na parede, parecendo movê-lo num assombroso balançar. Foi o bastante para sair em disparada até a portaria e dali só sair com o nascer do sol.... Puxa vida, o que diabos estou fazendo por aqui??!!
Carolina-MA

Em 2006 estava na Rua Grande no centro de São Luís inspecionando uma coberta do prédio maior do banco. Pisei numa telha má posicionada e despenquei lá de cima. Torci meu braço e tive várias escoriações. Mas livrei-me do pior: fiquei preso a um cabo elétrico que estava isolado de seus 380 volts, mas que me segurou de uma altura de 10 metros. Susto em mim e no pessoal que me acompanhava pois não me viam entre a coberta e o forro. Pronto!: todos achavam que o pior tinha acontecido pois passei minutos em silêncio.

Mas, em tantas e tantas viagens e tantos e tantos fatos pitorescos, houve muito aprendizado, conheci muitas pessoas boas e más, generosas e ambiciosas, apoiadoras e nem tanto e foi como este vai-e-vem que passei a admirar coisas simples da vida.

O tempo é o relógio de nosso Pai e é com os ponteiros da resiliência, humildade, sabedoria e solidariedade que deveremos prosseguir em nossa caminhada.

Luiz Lopes Filho, 07 de janeiro de 2015.