segunda-feira, 14 de julho de 2014

Síndrome do Vira-Latas ou do Novo Rico?

Síndrome do Vira-Latas ou do Novo Rico?

Ouvia muito meu pai falar sobre a Copa de 50. O Brasil jogava pelo empate na final com a seleção uruguaia. Mas perdeu de virada para os platinos em pleno Maracanã.
Nelson Rodrigues, escritor brasileiro criou então a expressão “Complexo de Vira-Lata”. Para o dramaturgo, o fenômeno não se limitava somente ao campo futebolístico. Segundo ele, "por complexo de vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo" e ainda complementava: []"o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima".
Um jornalista americando recuperou a expressão complexo de vira-lata (traduzida para "the mongrel complex") na matéria para o The New York Times sobre o programa nuclear brasileiro, escrevendo:
Escrevendo nos anos 1950, o dramaturgo Nelson Rodrigues viu seus compatriotas afligidos por um senso de inferioridade, e cunhou a frase que os brasileiros hoje usam para descrevê-lo: "o complexo de vira-lata". O Brasil sempre aspirou a ser levado a sério como uma potência mundial pelos pesos-pesados, e portanto dói nos brasileiros que líderes mundiais possam confundir seu país com a Bolívia, como Ronald Reagan fez uma vez, ou que desconsiderem uma nação tão grande - tem 180 milhões de pessoas - como "não sendo um país sério",[3] como Charles de Gaulle fez”.
O Brasil estaria assim, desejoso de ser reconhecido como igual no concerto das nações, mas tropeçaria sucessivamente em sua baixa auto-estima, reforçada pelos incidentes folclóricos acima relatados e outros do mesmo gênero ("a capital do Brasil é Buenos Aires", "os brasileiros falam espanhol" etc) sucessivamente cometidos pela mídia e autoridades estrangeiras.
Chegamos então a um novo mundial. Ainda nas vésperas, autoridades da própria FIFA criticaram a organização da Copa pelo Brasil. Estádios inacabados, acessibilidade e obras viárias e de infraestrutura atrasadas e tudo mais. Mas, logo na abertura e, gradativamente com o decorrer dos jogos, da simpatia do povo brasileiro, jornais internacionais estampavam em suas páginas a boa acolhida dos brasileiros, os improvisos que deram certo e, concluíram que a copa foi um sucesso, tanto a nível de organização, quanto de como saber receber tão bem seus visitantes.
Na contra-mão, a seleção brasileira decepcionou como nunca. Nossa seleção perdeu em campo vergonhosamente, mas os brasileiros foram campeões como anfitriões. Sabem por quê? Porque a seleção, com algumas exceções, agiu como os estagiários inexperientes, envaidecidos por mil tatuagens, por mexas nas suas jubas, por brios em seus subconscientes polidos por gordos saldos bancários. São uma equipe de novos ricos.
Treinaram pouco e vestiram a camisa amarela sem ter suporte para honrá-la. Foram inexperientes como novo ricos que se colocam num patamar superior perante seus adversários tão somente por ocuparem um espaço financeiro superior ou por assim, intrinsecamente, cultivarem em suas precoces sensos. Acham que a quantidade de moedas, estrelas no peito ou contratos milionários são suficientes para se ganhar um campeonato mundial ou tão somete uma partida. E tudo isto é mais ainda vitaminada pela mídia e que enaltece certos jogadores, colocando-o num patamar superior às suas qualidades.
Desprezaram a concentração e o espírito de equipe. Não se faz equipe somente com um ou dois jogadores, sem esquema tático, sem preparação psicológica e maior rigor nos treinamentos. Na minha opinião, Neymar e David Luiz podem ser excluídos desta seleção vergonhosa. Foram empenhados e tentaram suprir a deficiência técnica e emocional dos demais.
Claro que subir na vida é sonho de todos nós. Faz parte do projeto de qualquer homem desde a era do fogo. Evidente que nem todos conseguem por uma série de razões conhecidas: incompetência, azar, falta de oportunidades e circunstâncias diversas. A lógica diz que a gente deve aplaudir quem conseguiu chegar lá no topo, mas o problema é que não aceitamos a postura deste vencedor. Lidar com fama e dinheiro é difícil, falta estrutura, falta pés no chão e sua vida fica embriagada pelo sucesso, fragilizando-o para quaisquer dificuldades que o dinheiro não possa comprar, como uma partida de xadrez, como uma partida de futebol. Aí está nossa seleção de 2014. Filigranada e tatuada idelevelmente numa memória nacional que nunca será esquecida pelas futuras gerações.

Resta-nos rever nossos conceitos, nossa idoneidade, nosso respeito ao próximo, empenharmo-nos por trabalhar com honestidade e esmero. Tudo isto é exemplo para nossos filhos e, a partir de uma simples gentileza, poderemos colher gentileza, de mais estudo, colher resultados, de mais respeito ao próximo, sermos também respeitados e assim termos em nossa vida um espelho que seja multiplicador de nossas atitudes e assim, termos de volta somente coisas boas.



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