segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Lembranças Póstumas III

Lembranças Póstumas III
Orlando ao lado de Felipe Aguiar acenando e Chico Pinto de camisa marrom 

Hoje é dia daqueles que partiram para a casa do Pai Eterno. Tantos já se foram e, em nome deles, homenageio minha tia Terezinha Taumaturgo que tão recentemente foi ao encontro de Deus, deixando-nos com tantas saudades!
Algumas percorreram longa estrada e, quando as encontramos, já estavam de saída. Outros, ainda nos primeiros passos da vida, passaram para o outro lado.
Lembro-me de tantos. Assim como minha tia-madrinha, a partida de meu compadre, primo e amigo Evandro Filho ainda aviva minhas tristezas e, ao mesmo tempo, a lembrança de sua maneira alegre e veloz de viver. Seu espírito aventureiro pela velocidade segue analogia da partida do Felipe Aguiar onde a velocidade fora substituída pela liberdade extrema de saltar, de viver ao extremo da alegria ou pela defesa intangível da família como foi a motivação da partida do Carlinhos da Tia Antonieta Melo Soares.


Evandro Filho 
Estas atitudes e ações de cunho impulsivo e heróico traem no silêncio e na letargia de nossos ouvidos.
É desta forma que meus finados estão presentes: em suas lembranças, em suas marcas alegres e edificantes neste plano mundano e a Deus peço-lhes paz:
Na honestidade de meus avós José Calixto e Antônio Teófilo;

No amor incondicional de minha tia Terezinha Memória Taumaturgo Lopes;

Na firmeza da Dona Aidan, minha tutora quando jovem estudante;
No respeito e amizade a meus grandes professores Coronel Felizardo de Paula Pessoa Mendes, Coronel Nunes, Major Studart, Julian Hull, Coronel Lomônaco, Coronel Prado e o inesquecível franco professor de português: Parlevu;
Na alegria constante dos primos Felipe Lopes Aguiar, Carlos Melo Soares, Zé Augusto George Rocha e, Evandro Filho;
Na brilhantina e boa apresentação do Seu Juvenal, pai do amigo Paulo Araújo.
Nos sorrisos serenos da Dona Sinhá Taumaturgo, Dona Mariinha Freitas e de Dona Terezinha Furtado, mãe do Luís Júnior;
No trabalho social de Dona Mariinha Sá;
Na irreverência cômica da Dona Antonieta Bôto Cruz e de Dona Artemísia Lemos;
Na simplicidade do Dr Assis Martins;
Na simpatia do Seu Manim, pai do dileto amigo Dr Hermenegildo Farias Filho.
No zelo e amor ao próximo do Gerardim Doido (doidos somos todos nós; o Gerardim era fraterno, tão somente isto!);
Na inteligência de nosso compositor momino Mestre Piru, meu primo e filho do Seu Filemón;
Na cultura de Edmar Bezerra e no empreendedorismo educacional de Edson Bezerra;


Na humilde e honesta lidas de Seu Joaquim Morais em sua padaria e de Seu Zeca Alves em seu armazém;
No profissionalismo do amigo eletricista Tarciso;
Na vida simples e desprendida  de Gerardo Braga e do amigo Bandido (cidadão que tinha todas as qualidades, menos de bandido);
Na amizade e franqueza do Pretim Rodrigues, pai de nosso amigo Raimundo;
Nas rondas de Seu Dionísio, zelando pelo Reriutaba Clube;
No labor de meu primeiro dentista, Dr Osvaldo Lemos;
Na humildade prestável de Yayá Taumaturgo;
Na meiguice e amizade de nossa prima Maria Alice Soares; Dona Nair Paulino, do inesquecível amigo Antenor Paulino e do amigo Abílio César;
Na afeição sincera e silenciosa de Seu Demarzinho, pai de meu grande amigo Zé Aldemar Mesquita;
No profissionalismo incansável e materno estendido pelas mãos santas de Dona Maria Portela que deu as primeiras boas-vindas a muitos conterrâneos;


No trabalho saudoso e prestável de Seu Joca e de Chico Eudes;
Na probidade e cidadania de Seu Nóbrega, nobre coletor;
No orgulho sadio do sincero Zé Mourão;
Na amizade de Seu Otávio Torres, pai de meu amigo Chico Torres. Dele ganhei de presente minha primeira calculadora com display de leds, algo bizarro e ultratech para a época;
Na amizade sincera do "cumpade" de meu pai, Otávio Mororó que se orgulhava de seu filho  Washington, avisando previamente que o mesmo seria médico, mesmo ainda cursando a segunda série do primeiro grau; mostrando destarte sua altivez e amor paterno.
E, quando meu pai o repreendia dizendo:
“_Cumpade quem é este seu filho que vai se formar em Medicina?
Ele logo o retrucava: _“ora, Cumpade Lulu, é o Washington”
_Washington, meu afilhado? Ele ainda faz a 2ª série!
- Ora, cumpade Lulu, você já viu algum médico que não tenha cursado a 2ª série do primeiro grau?”
De Seu Antônio Mororó do Posto, homem probo e trabalhador;
Do "cumpade" do papai, Antônio Mororó, que sonhava um dia ir à Santa Quitéria em estrada asfaltada e achava que isto não vivenciaria (tinha razão!);
Na amizade de Seu Antônio Ximenes e de Seu Salim, sempre presentes em minha casa nos jogos de baralho com meu pai;
De Gerson Bertoldo em sua lida diária, transportando os malotes bancários;
Do Manoel Linhares Pé Sêco, esposo da Aurinha com sua caminhonete pegando os cariocas que chegavam de Horizonte (empresa de ônibus) no Ponto do Françuar;
Na juventude ceifada do divertido Mairton Castro;
Nos acordes do Raimundo Paiva em tardes de sábado no seu alpendre lá na Santa Cruz Velha;
No bom atender em seu bar: saudoso João Abraão;
Na humildade de Seu Manoel Linhares, BolaAeto e Vieirinha;
No alfabetizar incansável da tia Beatriz e de Dona Irene Ximenes;
“É uma satisfação” no sorriso constante do Dodó Passos,
Na amizade familiar dos tios Deusdedit, Sitônio, Osmundo e Ita;

Nas cômicas repentes do padrinho tio Assis Lopes e de Gerardo Nel;
Na folia do Seu Saldanha, tio Assis e do Locha Taumaturgo em dias de carnaval;
Na companhia agradável do amigo Fernando Taumaturgo;


Fernando Taumaturgo

Do primo Marcondes Soares, meu peixe nas tardes de carnaval do Reriutaba Club;
Na beleza de Elice;
Na hilárica franqueza do tio Fernando Taumaturgo, Atibones e Dona Tintinha; 


Tio Fernando Taumaturgo à esquerda
Na firmeza e educação de Seu Zé Edmilson Aguiar;
Na sadia irreverência do Seu Zé Taumaturgo e na paciência de Dona Geny Bezerra;
No respeito e humildade do ourives amigo Laércio;
Na matura amizade do Seu Adjemir Castro;
Nos ensinamentos religiosos do Monsenhor Ataíde Vasconcelos;
Na fé familiar da tia Djanira e na simplicidade do tio Pedro Teodoro;


Na sinceridade do amigo Chico Pinto, defensor da coisa pública e antagonista do neoliberalismo tassista;
Dos motes e ditados do Diassis da Loja com seus chevetes e leruás;
Da alegria do pequeno Manilim e de Luís Filho do Luís Fulô;
Dos versos e irreverência do Zé Aldir do Seu Coquim;
Da central telefônica do Seu Alderico Magalhães;
De seu Tomé Moreira, sentado à tardinha na calçada de minha rua;
Do uniforme claro do honesto e sincero parente Seu Zezé da Dona Lessinha;
Na presteza ímpar do Seu Firmino a quem tenho apreço infinito;
Na gentileza e nos passos de forró do Seu João Vapor;
No carinho infantil do Careta e do Curicaca;
Na serenidade dos seus Chaguinhas (“da loja e do bar”), Dona de Lourdes, Dona Tonha Lucca e Dona Lilioza;
Nos passos guiados de Seu Raimundo Honório e do Seu Antônio Gama que tinha uma reverência enorme a meu pai;
Na ébria alegria do Denizar, Cumbuca, Louro Preto, Zé Miguel e Careca;


Denizar
Nos foles do jovem sanfoneiro Xuxa;
Nos estridentes e fortes gritos do leiloeiro Chico Rosendo nas noites de agosto;
Nos inúmeros pacotes  e malas do Seu Doquinha ao embarcar no trem para Fortaleza;
Na matutice admirável e respeituosa de Chiquim Galvão e Moniquinha em manhãs de feira de sábado;
Na vaidade política do grande prefeito Ivan Rego; na representatividade de Albano Veras e Davi Morais;





Ivan Rego  
Enfim, de todos aqueles reriutabenses que deixaram seu legado na alegria, na humildade, no trabalho, na fé e na amizade. Sejam humildes e esquecidos, sejam agraciados e lembrados.

Sempre haverá um desses reriutabenses ocultos nestas linhas, mas que merecem nosso apreço e  respeito!

Deus os tenha!

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Partidas Inesperadas

Partidas Inesperadas

Quando éramos crianças, ouvíamos o badalar compassado do sino da igreja anunciando um falecimento.

Quantas vezes, franzíamos nossa expressão com este triste soar. As andorinhas voavam em rebanho, um galo cantava no quintal do vizinho, as nuvens encobriam parcialmente o sol. 
E nós, por ali ficávamos a  saber quem tinha ido embora. Muitas vezes era uma pessoa próxima, amiga de nossos pais. Mas, a infância e seu estado de espírito não nos deixava que a tristeza se apoderasse do resto do dia.

Hoje, já em nossa maturidade, pelo menos etária, vemos a partida de um amigo com mais intensidade. Talvez porque nos tornamos mais frágeis, mais sentimentais e também porque estamos no meio dessa estrada.

O sino da igreja não badalou, nem as andorinhas saíram em disparada das castanholas da praça. Tudo permaneceu como sempre: buzinas, o corre-corre de pedestres, os noticiários, a empregada passeando com o cachorro... 
Mas, eu não: senti-me em Reriutaba com a partida inesperada do primo e amigo Abílio César.  O sinal sonoro da notícia nas redes sociais substituiu o sino da igreja, mas me deixou tão triste como naqueles cenários doutrora.

Apesar de residir em João Pessoa, sempre o via em Reriutaba: Natal, Festa de Agosto, Carnaval. E sempre estava ali a passear pela feira, cumprimentando serenamente um e outro amigo.

Assim ficou gravada a imagem do amigo Abílio César. Estava sentado com meu pai na calçada lá de casa num sábado de feira. Justamente no dia 16 de agosto deste ano.
Ele veio a nosso encontro e afagou meu pai, dizendo: - Lulu, você está bem! Que bom vê-lo aqui em Reriutaba! Meu pai levantou a cabeça e o cumprimentou: - Ah, é o Abílio César! Tudo bem! Fiquei ali observando o respeito e a amizade contidos naquele cumprimentar que trazia visivelmente  um incentivo ao papai continuar firme e forte!

Sentimentos a todos nós e principalmente à família pela prematura viagem do amigo Abílio César! 

Que Jesus o acolha e amenize sua ausência!

Luiz Lopes Filho, 09 de outubro de 2014


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Parabéns, minha cidade!

Parabéns, minha cidade!



Hoje aniversaria minha terra natal, Reriutaba!

Lembro-me que no dia 07 de dezembro de 1978 olhei para trás com os olhos cheios de lágrimas e a deixei para estudar em Fortaleza. 

As lágrimas escorriam pelo canto dos olhos, enquanto eu sentia que pelos meus dedos escapuliam meus natais, meu carnavais, meus são joãos, meus banhos de Juré. Ali era a tênue e forte linha temporal que me separava da infância e de minha terra.

Naquela época, pela carência de transportes e de comunicação, parecia que viajaríamos para um destino muito remoto. E quão remoto era nossa capital! Os trezentos quilômetros estirados pelos trilhos da estação do Seu Saldanha até a estação do Seu João Felipe nos faziam muito saudosos.

Durante um ano, voltava ao berço somente nas duas férias e na semana santa. Dinheiro contado, muitas lições e tarefas diárias também contribuíam para isto. Seu Firmino amenizava esta distância, trazendo no corujão de domingo para segunda uma carta de minha mãe em papel róseo contando as novidades, um pacote de camarão sossego do Araras, cinco quilos de chã de dentro comprada no seu Hico Pinto e doce de buriti da serra.

Todos os dias, quando terminavam as tarefas diárias, olhava o pôr-do-sol e imaginava-o escondendo-se por trás da serra que emoldurava o poente de minha rua 25 de Setembro! A rua que exatamente homenageia nossa cidade.

Rua que sempre se mostrou duplicada exatamente porque o trem assim a deixou. De um lado, as casas que iam do bar do seu Valdemar Vieira até a casa do seu Quim, do Zé Mourão, do seu Demar, da Dona Tonha Luca, dos Balacós, do tio Sitônio, da tia Anúsia e do Ivan Rego. Do outro lado, as casas que iam do Laércio, do Seu Valmir Braga, do seu Filemon, da casa dos meus avós, do seu Zezé, do bar do Tiúba, da oficina do Seu João Vapor, da sapataria do Seu Doquinha, do mercado público, da farmácia do tio Assis, da casa da Dona Abigail, dos armazéns do seu Luís Taumaturgo, da minha casa, dos vizinhos seu Joaquim Furtado e tia Antonieta e terminava com as flores do jardim da dona Artemísia. 

Esta é a rua dupla, esta é a Rua 25 de Setembro que representa Reriutaba pelo saudosismo de seus moradores que já partiram e também pelos que ali se fazem presentes e fortes.

Nossa cidade é exatamente isto, um conjunto de ruas 25 de Setembro que também se chamam de Rua Alaíde Ramos, Monsenhor Ataíde Vasconcelos, Dr. Osvaldo Lemos, Luís Taumaturgo, Edmilson Aguiar, José Teodoro, Pedro Rodrigues, Raimundo Gomes, Beatriz Lopes dentre outras que muito gostaríamos de que também lembrassem-nos de ilustres moradores que já se foram. 

Do pé-de-serra à Amanaiara, do Campo Lindo ao Riacho das Flores, nossa cidade é exatamente isto, um conjunto de famílias simples, honestas e simpáticas que nos deixam vestidos de um sadio orgulho.

Parabéns Reriutaba! Viva 25 de Setembro!

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Chinelo Emborcado


Minha infância foi sempre abastecida com superstições contadas pelas crianças mais velhas ou pelos adultos.

Se a mão esquerda coçar, é sinal de que vem vindo dinheiro. Mas se a palma da mão direita é que estiver coçando, uma visita desconhecida está para aparecer. E quem será? Será uma visita boa ou alguém trazendo más notícias. Por dias ficava esperando um dinheirinho de meu pai ou que meu primo da capital viesse passar as férias em Reriutaba.

Se sua orelha esquentar de repente, é porque alguém está falando mal de você. Nesses casos, vá dizendo os nomes dos suspeitos até a orelha parar de arder. Para aumentar a eficiência do contra-ataque, morda o dedo mínimo da mão esquerda: o sujeito irá morder a própria língua;

Na Idade Média, acreditava-se que os gatos eram bruxas transformadas em animais. Por isso, a tradição diz que cruzar com um gato preto é azar na certa. Muitas vezes via um gato preto vindo em minha direção e tentava desviar do tal bichano. Parece até que ele lia meus pensamentos e, de repente, saíamos eu e o gato correndo, evitando tal cruzar. Eu, com medo da superstição e o gato, de eu lhe fazer mal;

A superstição prega que serão sete anos de má sorte. Ficar se admirando num espelho quebrado é ainda pior, significa danificar a própria alma. Ninguém deve se olhar também num espelho à luz de velas. Não permita ainda que outra pessoa se olhe no espelho ao mesmo tempo que você. Por quê? Nunca me disseram!

Toda criança gosta de brincar com objetos de adultos. Quando abria um guarda-chuvas dentro de casa, sempre minha mãe brigava. O guarda-chuva deve ficar sempre fechadinho. 

Dizia-se que ao abri-lo dentro de casa trazia infortúnios e problemas de saúde aos familiares. Mas acho mesmo que era para se evitar de quebrar os bebelôs ou jarros da mamãe. Mas também para evitar algum acidente com a ponta de cada aro do guarda-chuvas.

Gostava de contar estrelas em noites escuras, principalmente quando faltava energia na cidade. O céu ficava todo brilhante de tanto elas piscarem. Mas morria de medo de apontar para elas, pois nasceria verrugas na pele.

Andava sempre com uma baladeira (estilingue). Quando completei 10 anos, ganhei uma espingarda de presente de meu pai. Cabo de madeira com formato de um triângulo comprido, cano sempre enferrujado e oco milimetricamente para passagem do chumbinho. A carga não era pólvora, mas ar-comprido que se acumulava ao dobrar o cano da espingarda num movimento de quarenta e cinco graus. Sempre tinha que dispender uma certa força para recarregar o artefato e isto cançava muito os braços infantis.

Passava o dia todo em cima do muro do quintal esperando algum azulão ou rolinha pousar no frondoso pé-de-canafístula que ensombreava o quintal do armazém de seu Luís Taumaturgo, pai de meu amigo Luís Júnior.

De cima do muro via quando uma lagartixa balançava a cabeça em minha direção. Não pestanejava, disparava um chumbinho no rabo dela. Só assim, passaria a ter mais pontaria, dizia a superstição.  Consegui deixar muita lagartixa sem rabo. O pedaço cortado caía e ficava pulsando por minutos. Dizíamos que ela tinha dois corações, um no tórax e outro no rabo. E haja menino tentando fazer necropsia de rabo de lagartixa atrás do segundo coração do pobre réptil.

Mas, o mais difícil era acertar um beija-flor. Sempre ao meio dia, pousavam no pé-de-boca-de-leão do quintal lá de casa. E, ali, encostado num fogão à lenha nos fundos da casa, ficava a espreitar os minúsculos pássaros. A meta era matar um beija-flor e comer o coração dele. 

Aí pronto, nenhum tiro seria em vão, todos seriam ponteiros daquele momento em diante.  Fiz muitas tentativas, mas nunca matei um colibri. Ainda bem, hoje repenso em tantos crimes ambientais que cometíamos quando crianças.

Havia também uma certa proibição de que as mulheres assobiassem. Isto era coisa do satanás. E realmente, poucas eram as meninas de nossa época que arriscavam a fazê-lo.

E para os meninos também não era bom assobiar dentro de casa, pois atraía os maus espíritos.

O que mais dava medo a mim e a meus amigos da época era chinelo virado.
Meu primo dizia: “Rapaz, desemborca a tua chinela japonesa”, porque você ou alguém de sua família pode morrer.
Ave maria, não podia ver um chinelo emborcado que logo corria para desvirá-lo. Por isso não vou aqui postar uma foto chinelo virado. Como poderemos desvirá-lo neste blog. Só deletando a figura!

Na realidade, eram tantas as crenças que tínhamos certas compulsões e medos de contrariá-las. Muitas delas inventadas pelos próprios adultos no sentido de impedir certas traquinagens das crianças que desarrumavam tudo que se via dentro de casa.

Antigamente havia uma crença de que bons espíritos viviam em árvores, por isso, batendo na madeira, a pessoa acaba convidando os espíritos para protege-la.


Portanto, batamos três vezes na madeira e Boa Sorte a todos nós!



segunda-feira, 14 de julho de 2014

Síndrome do Vira-Latas ou do Novo Rico?

Síndrome do Vira-Latas ou do Novo Rico?

Ouvia muito meu pai falar sobre a Copa de 50. O Brasil jogava pelo empate na final com a seleção uruguaia. Mas perdeu de virada para os platinos em pleno Maracanã.
Nelson Rodrigues, escritor brasileiro criou então a expressão “Complexo de Vira-Lata”. Para o dramaturgo, o fenômeno não se limitava somente ao campo futebolístico. Segundo ele, "por complexo de vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo" e ainda complementava: []"o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima".
Um jornalista americando recuperou a expressão complexo de vira-lata (traduzida para "the mongrel complex") na matéria para o The New York Times sobre o programa nuclear brasileiro, escrevendo:
Escrevendo nos anos 1950, o dramaturgo Nelson Rodrigues viu seus compatriotas afligidos por um senso de inferioridade, e cunhou a frase que os brasileiros hoje usam para descrevê-lo: "o complexo de vira-lata". O Brasil sempre aspirou a ser levado a sério como uma potência mundial pelos pesos-pesados, e portanto dói nos brasileiros que líderes mundiais possam confundir seu país com a Bolívia, como Ronald Reagan fez uma vez, ou que desconsiderem uma nação tão grande - tem 180 milhões de pessoas - como "não sendo um país sério",[3] como Charles de Gaulle fez”.
O Brasil estaria assim, desejoso de ser reconhecido como igual no concerto das nações, mas tropeçaria sucessivamente em sua baixa auto-estima, reforçada pelos incidentes folclóricos acima relatados e outros do mesmo gênero ("a capital do Brasil é Buenos Aires", "os brasileiros falam espanhol" etc) sucessivamente cometidos pela mídia e autoridades estrangeiras.
Chegamos então a um novo mundial. Ainda nas vésperas, autoridades da própria FIFA criticaram a organização da Copa pelo Brasil. Estádios inacabados, acessibilidade e obras viárias e de infraestrutura atrasadas e tudo mais. Mas, logo na abertura e, gradativamente com o decorrer dos jogos, da simpatia do povo brasileiro, jornais internacionais estampavam em suas páginas a boa acolhida dos brasileiros, os improvisos que deram certo e, concluíram que a copa foi um sucesso, tanto a nível de organização, quanto de como saber receber tão bem seus visitantes.
Na contra-mão, a seleção brasileira decepcionou como nunca. Nossa seleção perdeu em campo vergonhosamente, mas os brasileiros foram campeões como anfitriões. Sabem por quê? Porque a seleção, com algumas exceções, agiu como os estagiários inexperientes, envaidecidos por mil tatuagens, por mexas nas suas jubas, por brios em seus subconscientes polidos por gordos saldos bancários. São uma equipe de novos ricos.
Treinaram pouco e vestiram a camisa amarela sem ter suporte para honrá-la. Foram inexperientes como novo ricos que se colocam num patamar superior perante seus adversários tão somente por ocuparem um espaço financeiro superior ou por assim, intrinsecamente, cultivarem em suas precoces sensos. Acham que a quantidade de moedas, estrelas no peito ou contratos milionários são suficientes para se ganhar um campeonato mundial ou tão somete uma partida. E tudo isto é mais ainda vitaminada pela mídia e que enaltece certos jogadores, colocando-o num patamar superior às suas qualidades.
Desprezaram a concentração e o espírito de equipe. Não se faz equipe somente com um ou dois jogadores, sem esquema tático, sem preparação psicológica e maior rigor nos treinamentos. Na minha opinião, Neymar e David Luiz podem ser excluídos desta seleção vergonhosa. Foram empenhados e tentaram suprir a deficiência técnica e emocional dos demais.
Claro que subir na vida é sonho de todos nós. Faz parte do projeto de qualquer homem desde a era do fogo. Evidente que nem todos conseguem por uma série de razões conhecidas: incompetência, azar, falta de oportunidades e circunstâncias diversas. A lógica diz que a gente deve aplaudir quem conseguiu chegar lá no topo, mas o problema é que não aceitamos a postura deste vencedor. Lidar com fama e dinheiro é difícil, falta estrutura, falta pés no chão e sua vida fica embriagada pelo sucesso, fragilizando-o para quaisquer dificuldades que o dinheiro não possa comprar, como uma partida de xadrez, como uma partida de futebol. Aí está nossa seleção de 2014. Filigranada e tatuada idelevelmente numa memória nacional que nunca será esquecida pelas futuras gerações.

Resta-nos rever nossos conceitos, nossa idoneidade, nosso respeito ao próximo, empenharmo-nos por trabalhar com honestidade e esmero. Tudo isto é exemplo para nossos filhos e, a partir de uma simples gentileza, poderemos colher gentileza, de mais estudo, colher resultados, de mais respeito ao próximo, sermos também respeitados e assim termos em nossa vida um espelho que seja multiplicador de nossas atitudes e assim, termos de volta somente coisas boas.



sábado, 21 de junho de 2014

Meu caro pai!

Meu caro Pai,

Hoje você faz 82 anos,

Mas, para mim você continua aquele pai de 40 que me deu de presente um carrinho de polícia movido à pilha (naquela época, um brinquedo d’outro mundo em Reriutaba);

Continua aquele pai de 42 que me levou para tomar banho na Cachoeira do Juré pela primeira vez,

Continua aquele pai de 43 que me deu de presente uma Monareta no Natal e fomos esperar o presente na estação ferroviária.

Continua aquele pai de 44 que me deu de presente uma espingarda de pressão. Coidados dos passarinhos que pousavam no pé de Canafístula do quintal vizinho. Ainda bem que não tínhamos esta consciência ambiental. Estaria preso sem direito à fiança! Talvez em prisão perpétua por tantos azulões, rolinhas e pardais abatidos....rsss;

Continua aquele pai de 45 que acenou lá de cima do Hospital Geral em Fortaleza já recuperado de uma quase fatal pancreatite;

Continua aquele pai de 46 que, da calçada do bar do Dedé, deixou cair uma lágrima ao me ver embarcar no ônibus Brasileiro voltando para estudar em Fortaleza com tão somente 11 anos de idade;

Continha aquele pai de 50 que escolhia a melhor carne no mercado de Reriutaba, as melhores castanhas torradas e os melhores camarões-sossego do Açude do Araras para me enviar para Fortaleza pelo seu Firmino e amenizar um pouco minha saudade de casa;

Continua aquele pai de 60 que se preocupava com minhas primeiras farras nos bares de Reriutaba, nos festejos da Varjota ou nos retornos da Serra Grande por estradas perigosas com velocidades que hoje não aceitamos. Ainda bem que não tinha conhecimento de minhas farras no Parque do Vaqueiro, Cajueiro Drink’s e outras pérolas da época.

Continua aquele pai que, mesmo com a impaciência e as dores da idade,  continua gostando cada vez mais da gente;

Continha aquela pai que, mesmo hemiplégico, com mobilidade tolhida e com frases com palavras esquecidas, pede para termos cuidado ao voltarmos para nossas casas e ainda consegue sorrir para seus netos.

Continua aquele pai que mesmo com a rispidez nas palavras, deixa evidenciar a maciez de seu coração nos cuidados com nossa mãe, preocupando-se com o trânsito, com a segurança, sempre indagando-nos porque a mamãe ainda não chegou do supermercado ou de alguma consulta.

Não importa a idade, o que importa é que gostamos muito de você!


Siga adiante com muita saúde e muitos aniversários a comemorarmos!

Que Deus lhe conceda saúde e qualidade de vida e harmonia para toda nossa família!

Feliz aniversário!
Com carinho,
Luiz Lopes Filho

21/06/ 2014!