sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Um Dia de Besta


Um Dia de Besta


Era uma quarta-feira de 29 de março de 1995. Em meu roteiro a serviço de minha empresa constavam vistorias de prédios no Piauí: Teresina, Campo Maior e Esperantina.

Naquela época, a companhia aérea com mais vôos para o Piauí era a Vasp. Saía cedinho de Fortaleza por volta das sete da manhã ainda no velho aeroporto Pinto Martins da Luciano Carneiro.

Desembarcava em Teresina com um bafo de ar quente e úmido na cara e, às oito já estava a cruzar o centro de Teresina, desviando-me de mesas e camelôs na Rua Rui Barbosa. Hospedava-me pelo centro mesmo no Hotel Teresina Palace. Também a capital piauiense não dispunha de outros hotéis, não havia prédios nem shoppings centers que hoje são testemunhos do quão a cidade evoluíu. O jeito era ficar pelo centro mesmo. Assistir à tardinha a um filme no velho Cine Rex e voltar para o hotel.
Cine Rex - Teresina

Na agência Teresina encontrava-me com um velho eletricista, consertador de ar-condicionado e funcionário faz-tudo, chamado Edmir Gallas, que se orgulhava de conhecer cada palmo do prédio. E, todas as vezes, estava ele a narrar: Luiz Lopes, você sabe quantas vezes eu consertei este fan-coil? Este piso foi colocado em 1964 e até hoje está brilhando. É pedra boa lá de Piripiri.

Subia até o último pavimento onde hoje há um auditório e ele continuava a mostrar a pilha de tralhas, computadores Cobra e IBM, motores velhos, induzidos, ventiladores, máquinas de escrever Remington e sabe mais lá o quê!  O saudoso Edmir Gallas não me deixava trabalhar;  ficava me passando o relatório de tudo quanto fizera desde a última vez que havia vistoriado o prédio. Por fim, subíamos até a última laje onde mais uma vez ele apontava para os velhos condensadores de máquinas de ar-condicionado e hastes de pára-raios, sempre reclamando das velhas telhas de amianto quebradas. De súbito apontava: Eita lá vem chuva!.....Olha lá, Luiz Lopes como o Rio Parnaíba está azul, nem precisa olhar para o céu, olha p’ro leito do rio que você vê quanto toró vai cair..... E eu apenas ria para encerrar o assunto, pois se falo meia frase, ele engata mais duas horas de conversa.

Rio Parnaíba tocando o centro de Teresina

No outro dia parti para a Rodoviária Lucídio Portela e embarquei no interurbano para Esperantina. Fui direto para o melhor hotel da cidade, chamava-se Rimo Hotel, pertencente a uma rede conhecida no Piauí. Possuía boas acomodações, piscina e um bom café da manhã com tapiocas, carne-de-sol, mugunzá, sucos, café, leite, queijo coalho e broas, tão comuns em terras piauienses.

Rodoviária Lucídio Portela - Teresina

Após o check-in, fui dar uma volta pelas áreas comuns e pelo deck. Lá estava um senhor gordo, aparentando uns sessenta anos. Logo perguntou-me de onde era. Simpático, bem vestido, apresentou-se como alto representante de farinha de trigo Dona Benta do Grupo J Macedo, estendendo-me à mão um cartão de visitas.

Muito inexperiente, com meus vinte e poucos anos, disse logo onde trabalhava, o que fazia e o que vinha fazer. E neste mote, o nobre senhor representante especial das farinhas de trigo Dona Benta, disse logo que conhecia um amigo meu também engenheiro, que tinha um sobrinho que estudara no Colégio Militar, que era primo de um antigo diretor do Banco e tudo mais.

Passou-me seu currículo de homem honesto e probo, de amigo prestável e trabalhador.

No outro dia, cedinho estava já no café-da-manhã oferecendo-me carona até o centro da cidade, pois o hotel era distante. Pensei logo: Daqui que o taxi chegue!.....vou logo com o Geraldo para o centro e mais cedo concluo o trabalho para retornar à Teresina, donde embarcaria noutro vôo da Vasp que decolaria às 23:55h. Como chegaria de madrugada em Fortaleza na 6ª feira, nem mais iria trabalhar. Que bom!.

Aceitei então a carona do distinto e honesto Geraldo até a agência do Banco. Logo foi-se apresentando ao gerente e vendo se era possível eu emprestar-lhe duzentos reais, pois seu cartão era do Bradesco e na cidade de Esperantina não havia como sacar.

De prontidão, saquei o empréstimo para o Geraldo que embolsou rapidamente como se nunca mais fosse devolver aquela gorda quantia. Gorda sim, pois em 1995 o Plano Real ainda era jovem e o real valorizado.

Após o meio-dia, terminados meus trabalhos em Esperantina, fui para a rodoviária pegar o ônibus para Teresina. Chegaria à noite, mas com tempo suficiente para embarcar no Vasp para Fortaleza.

Quando passara um Chevette SL cor prata acenando: - Luiz, estou indo para Teresina, você não quer ir comigo?

Ora, com aquele calor e um ônibus à minha espera com várias paradas até Teresina, aceitei a carona do Geraldo.

Conversa vai, conversa vem, logo o Geraldo foi se contradizendo nas suas gabolagens e nos seus vanglorios. Mas nem isto me fez minimizar a confiança no velho senhor.

E, chegando em Teresina já no aeroporto, na Praça Santos Dumont, agradeci ao Geraldo. Talvez cansado pelo calor piauiense, talvez porque todos nós temos mesmo um dia de sermos bestas. Aquele era meu Dia de Besta.
Praça Santos Dumont - Aeroporto Petrônio Portela - Teresina

O Geraldo, descaradamente me pede mais um favor:

- Dr Luiz, por favor leve para minha esposa este envelope. Mas tenha cuidado. Nele há mais de cinquenta mil reais em cheques que ela deverá depositar amanhã em Fortaleza.

- Também você não me leva a mal se eu pedir para ver sua identidade. É apenas por segurança, pois estes cheques não são meus. Apenas para dizer à minha mulher seu nome completo e coisa e tal.

E, neste lance de se mostrar preocupado com minha honestidade para encobrir sua malandragem, o Geraldo brecou meu núcleo caudato, parte do cérebro responsável pela confiança ou desconfiança em alguém.

- Tudo bem, Geraldo! Disse eu ingenuamente naquele dia de besta, de abestado que fui.  E logo o velho e distinto malando emendou:

- Vou lhe pagar seus duzentos reais e, mais uma vez: Muito Obrigado!. Vamos na máquina do Bradesco. Tonalizou o tal Geraldo.

- OK, vamos então.

- Luiz, puxa vida! Não sei como vou fazer. O cartão está com problemas! Desmagnetizado. Não saca. E agora? Mas não tem problema não! Vamos ligar para minha mulher que ela já saca o dinheiro em Fortaleza e, quando você chegar lá para entregar o envelope, ela lhe paga.

O malandro logo simulou uma ligação para a esposa na minha frente e emendou num ar hipnótico:

-Amigo Luiz, como você vai levando mais de cinquenta mil reais neste envelope, você não acharia ruim me emprestar mais duzentos reais, né? Minha mulher já saca os R$400,00 e pronto. Tudo OK?!.

- Como abestado, lá estava a entregar mais duzentos reais ao Geraldo.

Despedi-me do velho Geraldo e embarquei no vôo Vasp.

Assim que entro no avião, encontro-me com a Adriana, uma amiga minha que estava no vôo vindo de Brasília. Acho que a hipnose e meu dia de besta havia terminado. Afinal já era mais de meia-noite! Logo logo contei à Adriana todo este enredo. E ela num sorriso com mil palavras, disse: - Luiz, abre este envelope! Tu caíu direitinho.

Mas também não abri. Talvez por medo, talvez por vergonha ou mesmo por honestidade. Fiquei me remoendo até Fortaleza.

Cedinho acordei e fui procurar o endereço de entrega do envelope. Descobri que o velho Geraldo me informara o endereço de sua ex-mulher, de quem recebi todas as informações do meliante Geraldo. Aquilo é um cafajeste! Muita gente procura ele! E é porque é advogado! Você foi enganado, meu filho! Veja o que tem dentro deste envelope!

Rasgando o envelope, logo caíram papel picado e folhas de um velho caderno de espiral em branco. Nada havia, nem cheque, nem um rabisco.

Fiquei vermelho. Mas como me senti abestado! Aquele realmente foi meu dia de besta.

Lembrei-me de ligar para o hotel Rimo lá de Esperantina e perguntar na recepção pelo endereço do tal Geraldo. A princípio não quiseram me informar, mas dissera que era amigo do mesmo e tinha que entregar um remédio urgente para sua velha mãe. Consegui então o endereço do meliante: Rua Teresa Cristina quase próximo ao prédio do Dnocs da Duque de Caxias.

Corri prá lá. A casa era daquelas meio antigas, pintura amarela, desbotada e janelas trabalhadas, aparentando mais com a casa da Dona Liliosa lá de minha Reriutaba. Bati à porta e logo fui recebido por duas senhoras. Uma era a mãe do Geraldo, senhora simples de sorriso brando no rosto enrugado e outra era a irmã do meliante. Num espasmo, afastei-me da velha senhora, puxando pelo braço da mulher mais nova, a quem narrei o ocorrido, ameaçando e prometendo mil coisas contra o vagabundo e velho Geraldo. Com as mãos na cabeça, ela lamentava: - Oh meu Deus, meu irmão não tem jeito. Ainda com tantos problemas, vai acabar um dia mal!

Meio desesperada, a irmã do meliante ficou de me ligar tão logo este voltasse de viagem e assim o fez, devolvendo-me ainda duzentos reais arrancados à força do trapaceiro.

Aquele foi meu dia de besta do qual me orgulho, pois só aprende quem passa. E como o prejuízo não foi tão grande, a experiência ficou em conta, pois me serviu como vacina para tantos outros que nos querem fazer de besta.

Só foram ruins as brincadeiras dos amigos e de meu Tio. Os amigos me pediam: Luiz, meu nome é Geraaaldo! - Me empresta duzentos!

E meu tio ria, dizendo: - Meu sobrinho, graças a Deus que a carona foi curta somente de Esperantina a Teresina. Já pensou se fosse de Esperantina à Fortaleza, o que você não teria dado ao Geraaallldo???

Fica aqui narrada a história de Meu Dia de Besta!

As Leis da Arquitetura e da Engenharia

As Leis da Arquitetura e da Engenharia
 
Revirando alfarrapos, tabelas de dimensionamento de concreto armado e tantas apostilas de orelhas, mofadas pelo esquecimento, encontrei esta cômica relação que traduzia muito bem nossa lida diária.

Não obstante, observamos que tais leis vão se dissolvendo ante ao aprimoramento tecnológico e à melhoria do formação de nossos profissionais.

De qualquer forma, lembremos porque ainda muito nos deparamos com estas situações:

LEI DO LOTE ESTREITO: Em todos os lotes falta um metro de largura.
LEI DO TOPÓGRAFO: Dois levantamentos topográficos de um lote nunca são iguais. Se forem iguais, um topógrafo colou do outro e ambos estão errados. Corolário: Se existe um só levantamento este é confiável. Se existem dois...Nenhum é confiável.
LEI DO BI-PROJETO: O cliente que necessita ampliar a garagem e construir um grande edifício, somente construirá a garagem. Hoje em dia, se o cliente quiser fazer uma edícula com churrasqueira para depois construir uma piscina com uma casa na frente, mal conseguirá terminar a churrasqueira.
LEI DO CARTOON: Se um cliente chama seu anteprojeto de "desenhinho", ele não vai querer pagá-lo.
LEI DO GÊNIO IDIOTA: O cliente contrata você dizendo que acha você um gênio, na hora de pagar vai dizer que até o filho dele de 8, 9 anos faz desenhos melhores que os seus.
LEI DA CERÂMICA: Nenhuma cerâmica de 20 x 20 mede 20 x 20.
LEI DO CAMINHÃO: Sempre que se vai verificar uma entrega de materiais, dirão que "o caminhão já saiu para entregar"
LEI DO "NINGUÉM SABE": O cliente nunca sabe o que quer. Quando pensa que sabe o quer, certamente não sabe o que pode ter. O arquiteto tampouco sabe o que quer o cliente. O cliente nunca entende o que quer o arquiteto. Corolário: O projeto nunca reflete o que quer o arquiteto, nem o que quer o cliente.
LEI DA BUSCA: Não importa que seu projeto fique em um local escondido; se for ruim, todos irão encontrá-lo
LEI DO VIZINHO: Se no lote vizinho existe um edifício de "N" pavimentos, no seu terreno será permitido "N - 2". Se seu edifício tem "N" pavimentos, seu vizinho poderá construir "N + 2"
LEI DO PRONTO: Se um cliente solicita uma modificação de projeto, diga que é impossível de ser realizada: depois estude o caso.
LEI DO TEMPO A FAVOR: Demore a realizar o detalhamento e não será preciso faze-lo.
LEI DO EGOS: Se quer um bom projeto, utilize o material adequado.Se quiser que seja publicado, use tijolos de vidro.
LEI DO ELETRODOMÉSTICO: Todas as máquinas de lavar pratos são 5 cm maiores.
LEI DO TEMPO: A temporada de chuvas começa no dia em que se iniciam as escavações.
LEI DA CULPA: Não importa a causa: se algo dá errado no projeto o responsável é o arquiteto.
LEI DO AQUECEDOR: Para acomodar um simples aquecedor um closet deverá ser sacrificado.
LEI DA SATISFAÇÃO APARENTES: Se um cliente fica satisfeito:a) Não entendeu o projeto.b) Não pagou o projeto.c) O arquiteto se enganou.
LEI DA TOLERÂNCIA: "Modulação" é um sistema milimétrico para que os elementos fiquem mais ou menos parecidos.
LEI DA EMPREGADA DOMÉSTICA: Se o quarto de empregada está projetado para que caiba uma empregada, o apartamento é velho. Se a empregada não cabe no quarto, o apartamento é novo.
LEI DO CLIENTE-ARQUITETO: O cliente é um arquiteto que não sabe desenhar. Quanto mais caro o projeo, mais arquiteto é o cliente e mais desenhista é o arquiteto.
LEI DO MESTRE DE OBRAS: Os ângulos retos não existem.
LEI DO MESTRE DE OBRAS2: Curvas de alvenaria não têm raios.
LEI DO OLHÔMETRO: Um orçamento nunca é cumprido. Corolário: se um orçamento é cumprido, alguém cometeu um erro.
LEI DA MEMBRANA ASFÁLTICA: Se uma cobertura não tem goteiras, ...tenha paciência.
LEI DA FALSA ENTREGA: Se o carpinteiro chegou a tempo com os móveis, ele se enganou de obra.
LEI DA OFERTA: Se um tapete está em oferta:a) É rosa com verde e lilás b) Tem 2m² a menos de que é necessário.c) Já foi vendido.
LEI DO "FICOU": Nas obras, as coisas não são feitas: elas ficam. Exemplo: "Ficou torcido", "Ficou curto", "Ficou torto"...
LEI DO CLIENTE FIXO: Se um apartamento foi construído em um local adequado, de tamanho adequado e a um preço adequado: a) O comprador que gosta do local e do tamanho, não tem dinheiro.b) O comprador que gosta do local e do preço, acha tudo pequeno.c) O comprador que gosta do tamanho e do preço, não gosta do local.d) O comprador que gosta do tamanho, do preço e do local... é você
LEI DO ÚLTIMO ESTRAGA: O último a executar qualquer serviço em uma obra estraga o serviço do anterior: o marceneiro estraga a pintura, o pintor estraga o piso, o piso estraga o reboco, e assim por diante.
LEI DO INEVITÁVEL: Sempre o último parafuso a ser colocado arrebentará um cano de água.
LEI DA INÉRCIA POR DETALHAMENTO: Quanto mais minuciosamente detalhado for um projeto menos os pedreiros vão entender e trabalhar.
LEI DO BEM QUE EU AVISEI: Não adianta o arquiteto que visita as obras para verificar a execução de seus projetos avisar que algo está sendo construído errado, ao contrário do que foi projetado, porque quando der errado, vão chamar o arquiteto, colocar toda a culpa nele, e perguntar por que ele não avisou nada antes.

 
Luiz Lopes Filho, 23/08/13
 

 

 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Teoria das janelas partidas



Teoria das janelas partidas

 ... Se o vidro de uma janela de um edifício é quebrado e ninguém o troca, muito rapidamente estarão quebrados todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito...

Há poucos dias li um artigo do empresário Renato Kasinski sobre esta teoria. Trata-se de um comportamento muito peculiar a todos nós, convivendo ou não num conglomerado urbano ou simplesmente num isolado rincão de nosso sertão.

Muitas vezes viajando para Reriutaba, deparamo-nos logo na saída de Fortaleza, pela BR-020 com inúmeros sacos plásticos revoltos à margem da pista ou fixos em pequenos arbustos. Muitos encontram-se bem à frente de residências, que alheio àquela sujeira, alimentam ainda mais esta sórdida decoração de entrada de nossas cidades.

Em contrapartida, muitas vezes chegamos a uma remota e simples varanda de nosso interior e observamos o quão se encontra varrida, sem lixo, sem sacos espalhados a seu redor. Tudo isto é exemplo de cuidado que se multiplica entre as pessoas: Ao vermos uma calçada limpa, buscamos assim mantê-la, se vemos uma rua sem lixo nas sarjetas, temos o cuidado de nada deixar ali cair.

Lembremos de nosso próprio carro. Quando ele está polidinho, limpinho, mais cuidado temos para não sujá-lo numa poça d’água, numa via empoeirada. Porém se o mesmo está sujo, então vem à nossa mente: “...Ah, deixa para lá...o carro tá sujo mesmo então eu vou atravessar este lamaçal.” É o que realmente acontece!

Neste contexto, Em 1969, o professor Phillip Zimbardo
da Universidade de Stanford (EUA), realizou uma experiência de psicologia social.

Deixou dois carros abandonados na via pública, dois veículos idênticos, da mesma marca, modelo e cor.  Um ficou em Bronx, na altura uma zona pobre e conflituosa de Nova York, outro em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia. Dois carros idênticos abandonados, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local.

Resultou que o carro abandonado em Bronx começou a ser vandalizado em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Já o carro abandonado em Palo Alto se manteve intacto.

É comum atribuir à pobreza as causas de delito, atribuição em que coincidem as posições ideológicas mais conservadoras (da direita e da esquerda). Contudo, a experiência em questão não terminou aí. Quando o carro abandonado em Bronx já estava destruído e o de Palo Alto impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto. O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o do Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo do bairro rico ao mesmo estado que o do bairro pobre.

Por que o vidro quebrado, no carro abandonado num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso?

Não se trata de pobreza. Evidentemente é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais. Um vidro partido num carro abandonado transmite a ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação, que vai quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras, em que vale tudo.
Cada novo ataque que o carro sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.

Em experiências posteriores, James Q. Wilson e George Kelling desenvolveram a "Teoria das Janelas Quebradas", a mesma que de um ponto de vista criminalístico conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem são maiores. Se o vidro de uma janela de um edifício é quebrado e ninguém o troca, muito rapidamente estarão quebrados todos os demais.

Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.

Se se cometem "pequenas faltas" (estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar um sinal vermelho) e isso não gera punição, então começam as faltas maiores e logo delitos cada vez mais graves. Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando chegarem à idade adulta.

Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas (que deixa de sair das suas casas por temor à criminalidade), são progressivamente ocupados pelos delinquentes.

A Teoria das Janelas Quebradas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, que se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade.

Começou-se por combater as pequenas transgressões: pichações deteriorando o lugar, sujeira das estações, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.

Mais tarde, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Quebradas e na experiência do metrô, impulsionou a política de Tolerância Zero. A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York. A expressão Tolerância Zero soa como uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas seu conceito principal é a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, nem de estimular a prepotência da polícia. De fato, aos abusos das autoridades deve também aplicar-se a Tolerância Zero. Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.

Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja em nosso bairro, na vila ou condomínio onde vivemos, não só em cidades grandes. A tolerância zero colocou Nova York na lista das cidades seguras.

Esta teoria pode também explicar o que acontece aqui no Brasil com ruas pixadas, corrupção, impunidade, amoralidade, criminalidade, vandalismo e falta de educação, mesmo com o simples ato de jogar uma ponta de cigarro na rua ou um chiclete mascado.

Às vezes chegando na minha cidade numa tarde de sábado, vejo inúmeros garis varrendo as ruas, mas numa contenção de impulso, guardo os papéis e garrafas de água mineral vazias dentro do carro, pois já há bastante lixo para aqueles trabalhadores juntarem. Quantas garrafas e sacos jogados pela praia nós coletamos pelos que praticam este tolo ato?

Ao praticarmos estes atos de zelo para com nossa cidade, para com nosso meio-ambiente, estaremos multiplicando tal atitude aos olhos de quem hoje não o pratica. Multipliquemos esta idéia, pois somente assim nossa casa, nossa calçada, nossa rua e nossa cidade ficará cada vez mais bem zelada.


Reriutaba-CE, 14/05/2013
Luiz Lopes Filho

sexta-feira, 5 de abril de 2013

CAMPANHA RELÓGIO DA IGREJA MATRIZ DE RERIUTABA





Esta campanha tem por finalidade angariar recursos para recuperação do relógio da Igreja Matriz de Reriutaba, cuja aquisição foi feita pelo saudoso Monsenhor José Ataíde Vasconcelos.

O relógio da igreja é um ícone para a cidade e seus munícipes. O som ecoava da torre, badalando a cada meia-hora e nos faz lembrar a hora do Anjo, a Festa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a Semana Santa, o Natal e as Festas do Ano Novo. Vamos preservar este patrimônio!

A sociedade reriutabense poderá contribuir com qualquer quantia mediante arrecadação a ser previamente divulgada.

A princípio, informamos que sugestões são bem-vindas. Estou contactando com um mestre consertador de relógios no Crato, onde já consegui localizá-lo.

Quaisquer sugestões ou doações serão devidamente planilhadas com o valor e o nome do doador (e assim for permitido). Porém somente após recebermos a proposta do custo do referido conserto e será divulgada neste portal.

Cordialmente,
Luiz Lopes Filho

Contacto: luizlopes@l2engenharia.com.br  ou neste blog.

segunda-feira, 18 de março de 2013

O Muro

O Muro



Ontem, comentávamos sobre as diversas faces do comportamento humano frente ao sucesso de outrem. Um amigo lembrou-se logo de seu pai que lhe dizia:

- Filho, há um obstáculo à frente de nossos passos, onde os que estão subindo o muro numa acirrada concorrência, muitas vezes puxam seu vizinho, impedindo-o de galgar seu topo. E nesse puxa-puxa, alguns se desvencilham destas garras e conseguem vencer, conseguem sentar-se lá no topo deste muro. Ali pode tranquilizar-se, pois as garras que antes o puxavam, não mais são capazes de alcançá-lo. Consegue pois filigranar seu sucesso profissional.

Lembrando-se então do pensamento do saudoso Dr Edmar Fujita, acho que mesmo sentados numa confortável posição, há também outros que compartilham o topo deste muro e, se dermos algum sinal de proximidade e de ameaça a seu lugar, acho que também vão querer que nos espatifemos lá de cima, numa queda ainda mais traumática.

Portanto, mantenhamos nossas posições, nossos limites, nossos caminhos sem perturbação ao próximo. Não queiramos tirar proveitos do suor alheio, não queiramos dividir uma conta sem equidade, não queiramos comprar barato o ofício do próximo pelo fato de hoje ele estar fragilizado. Não queiramos tornar nossas vidas regidas pelas frias e silenciosas engrenagens do mercado financeiro.

Apologia à preguiça, incentivo ao comodismo. Talvez tenhamos que ouvir tais refrões ante a este pensamento, mas não se trata de deixarmos de trabalhar, de fugir à pesquisa e ao estudo em busca de novas tecnologias indispensáveis à nossa sustentabilidade, significa compartilharmos mais sem prejuízo próprio.

Hoje estamos: presidente, gerente, juiz, celebridade; amanhã seremos tão somente nós. Encontrei-me com um ex-presidente de um banco numa solitária leitura, sem ninguém a paparicá-lo. Aproximei-me e o cumprimentei: - Tudo bem, presidente?! Esta tranquilidade deve-se ao livro ou à ausência de tantos bajuladores de outrora? Respondeu-me através de um sorriso alentador, acenando para os dois motivos.

Há alguns anos, a caminhada matinal da Beira-Mar da cidade era feita num cortejo diário ao ex-presidente por vários gerentes que o acompanhavam em sua cadência e até mesmo em seu ritmo respiratório, buscando a proximidade do poder ou somente aparentá-los a tal situação.

Nesses dias vi o ex-presidente caminhando sozinho e, numa engraçada coincidência, o novo presidente cruzou seu antecessor com o mesmo cortejo que antes o pertencia. Sorri silenciosamente perante esse quase parasitismo social a desfilar no calçadão da beira-mar.

Hoje em dia, podemos para compreender as relações ecológicas e as formas de interações biológicas no mundo natural. Programas como os da National Geographic e da série Planeta Terra, da BBC, mostram tais interações nos mais diversos biomas, sejam eles localizados nos pólos, nas montanhas, no mar, nas savanas ou nas florestas tropicais.

Da pareceria e cooperação às de antagonismo ou competição. A simbiose e o comensalismo são relações harmônicas. Desarmônicas são interações como a antibiose (princípio usado nos antibióticos, que matam ou inibem certos organismos vivos), o predatismo e parasitismo. Estratégias astuciosas se aplicam nestas relações antagônicas.

Nós, humanos, mantemos diversos modos de relações ecológicas e interações com os demais de sua espécie, com outras espécies e com seu próprio habitat. 

O ambientalista José Lutzenberger dizia que a população humana vem se comportando pior do que o pulgão no tomateiro. O parasita vive no corpo do hospedeiro, do qual retira alimentos. O pulgão se reproduz até matar a planta hospedeira. Assim estamos nos comportando como parasitas da Terra, donde se nutre, consome matérias primas e energia. 

Mas a natureza pode assumir a face da mãe Kali. Ela é a verdadeira representação  da natureza e é também considerada por muitas pessoas a essência de tudo o que é realidade e a fonte da existência do ser. Numa reedição da expulsão do paraíso, nossa espécie corre o risco ser banida do planeta que a hospeda, conforme sugere James Lovelock, o autor da teoria Gaia, que prevê a redução da população humana a tão somente um bilhão de pessoas ao final deste século XXI.

Aristóteles já dizia que o homem é um animal político e assim o sendo, as formas de interações correspondentes às biológicas e ecológicas se reproduzem nas relações políticas, sociais, econômicas e afetivas.

A consciência e a ação ecológica podem fazer-nos evoluir conscientemente numa relação comunitária e colaborativa. O ser humano sustenta a natureza e, por sua vez é por ela sustentado. Simbiose implica cooperação, coevolução do ser em seu ambiente. Aplicado na ecologia industrial, o conceito supõe que existam interações lucrativas entre empresas de vários setores, pelas quais recursos tais como a água, a energia e materiais provenientes de uma indústria são recuperados, reprocessados e reutilizados por outras.

Portanto, nesse polinômio contextual, escalemos nossos muros, sem puxar o outro pelo rabo. Ajudemo-nos reciprocamente e seremos mais felizes!

Luiz Lopes Filho, 18 de março de 2013

sexta-feira, 8 de março de 2013

Curicaca



Nesta semana, já chegando no trevo em Santa Quitéria a caminho de Reriutaba, meu pai lembrou-se de seu cumpadre. Sempre o mesmo refrão quando percorremos esta rodovia:

 - O Cumpade Antônio Mororó me dizia que asfalto entre Santa Quitéria e Reriutaba só depois dele morrer. E agora taí, asfalto bom, menos de uma hora de viagem. Naquele tempo de Jeep nestas carroçais e ainda mais com as pedras do Trapiá, levávamos mais de 3 horas e ainda com prejuízo da descarga quebrada nas pontas de lajedo.

- Puxa, pai...toda vez a mesma história, falava-lhe sorrindo.

- O Cumpade Antônio Mororó guardava às vezes as mercadorias do Curicaca na sua oficina por favor ao velho mascate e ficava com medo da procedência das mesmas, apesar do Curicaca dizer que era da viúva.

- Pai, quando foi que o Curicaca morreu?

- Ah, acho que já faz mais de dez anos. Estava na calçada da farmácia do Assis e já caíu morto. Era um sujeito honesto, apesar da fama de vendedor esperto de bugingangas e tudo mais.

- Morte súbita? Coração? AVC?

- Acho que sim.

O João Carlos Pilão contava umas do velho Curicaca. Dizia que uma vez foi pego na Praça da Lagoinha em Fortaleza com umas mercadorias sem nota e a guarda municipal o deteve. Mas, com sua esperteza e facilidade em fazer amigos, o velho Curica conhecia um capitão que logo o acudiu.

Após solto, permitiram-lhe levar suas mercadorias apreendidas que não eram tantas.

- Pode dizer quais são suas coisas! Disse-lhe o guarda de plantão ao devolver o material apreendido.

- O Curicaca logo apontou: isto, isso, aquilo, aquilo acolá e tudo mais. Voltou a Reriutaba com o dobro do estoque.

Uma vez meu pai havia comprado uns chocalhos em Fortaleza para vender em seu comércio. Arrependeu-se, porque achava difícil revender aquele tipo de coisa. Lembrou-se logo do Curicaca para repassar pelo mesmo preço.

O Curicaca ofereceu logo na primeira esquina na mercearia do Seu Demazim ao que lhe retrucou:

- Onde foi que tu arrumou isso, nego sem-vergonha?

- Foi da viúva, é mercadoria limpa! No mesmo dia, meu pai recuperou o dinheiro empregado nos chocalhos e deu o lucro ao ambulante famoso da cidade.

Naquela época havia cerca de dez engraxates na cidade. O Curicaca era um deles, quando não se dispunha de quinquilharias para vender pelas ruas da cidade. 

Certa vez, o Curicaca se viu preocupado com o trabalho honesto. O Rubian era seu concunhado e tinha uma pequena fábrica de bolsas, malas e afins na capital. Confiou ao Curicaca a revenda de muitos produtos pela zona norte, principalmente Reriutaba. Numa semana revendeu tudo, deixando alguns produtos de sobra na oficina do seu Toim Mororó.

- Lulu, agora não posso tirar meu "sonim" na calçada da estação. Fico preocupado de alguém meter a mão no meu bolso e levar o apurado! Acabou-se minha tranquilidade! Vou deixar de vender muita coisa e ter muito dinheiro comigo! Prefiro vender as coisinhas da viúva.

Assim era nosso ambulante Curicaca que cheguei a conhecê-lo muito bem na década de 80 e sempre dizia quando uma coisa não era lá tão certa: “Meritri di Trorion!”  (corrijam-me se o termo era realmente este)

E foi em homenagem ao esperto vendedor que nosso saudoso Toim do Filemón, nosso Mestre Piru compôs a marchinha de carnaval reriutabense:

“A nossa irmandade não tem crente de verdade; ninguém mais quer ser ovelha, todo mundo só que ter carneiro para brincar na sua raça agora em fevereiro. Primeiro o Curicaca, segundo o Venceslau. Quero ver o pastor e a patota pulando o carnaval......E o Curica, Merichide Trorion..!!!! Na realidade a composição era bem mais rica, pois não mais a recordo.

Como não tenho uma foto do folclórico e saudoso Curicaca, resolvi postar a foto da ave que lhe deu nome: A curicaca é uma ciconiforme da família Threskiornithidae. Seu nome é onomatopeico, semelhante ao som de seu canto, composto de gritos fortes. Conhecida também como despertador no Pantanal, carucaca, curicaca-comum e curicaca-branca.



Homenagem ao engraxate Curicaca que sempre foi simpático com a criançada da época.



sábado, 2 de março de 2013

FAVA ENVENENADA


Recebi de meu amigo Lucídio Leitão uma mensagem bem nordestina que expressa o cheiro de chuva no massapê seco e que nos faz lembrar causos engraçados de nossa terra. 

Mas a princípio, gostaria de descrever o Lucídio. Antes de colega de trabalho, um amigo que sabe cativar pela sua presteza, fraternidade e bom humor. Antes de capacitado engenheiro mecânico,  também é eletricista e civil, pois em suas obras, projeta cada detalhe como um exímio artesão. Antes de bom cavalgador de burra, um excelente vaqueiro e isto se mede na quantidade de troféus. Só perde para seu filho, Tiago Leitão. 


Burra do Lucídio - Aquiraz-CE

E porque não dizer de seus dons culinários. Visitar seu sítio no Aquiraz é um fazer um passeio gastronômico: do porco torrado ao carneiro guisado; do peixe dourado ao capote na lata; do torresmo sequinho ao baião com nata. 
E para conversar com os amigos, deixa na sua cozinha substitutos à altura como os cheffs Totô, Abílio e até o Faustinho.

Saindo  do  trabalho


Eis a mensagem que recebi deste engenheiro vaqueiro:

Hoje, no intervalo do almoço, estivemos, eu, o Gonçalo, o Expedito e o Evandier, conversando sobre as coisas do sertão e daí saiu a conversa sobre as comidas regionais e nessa ocasião se falou sobre Fava com toicinho e mocotó de porco.

De imediato recordei de um arroz que o Gonçalo me trouxe da Várzea Alegre, da sua lavra, o qual eu comi com fava, inclusive cheguei a registrar o momento em que iniciei o fazimento desses pratos (na garrafa verde tá o arroz do Gonçalo e na transparente a fava).



Também nesse momento me veio a mente o conto da Fava Envenenada relatada num cordel dos bons, embora esse relato não tenha nada a ver com a fava por mim preparada, vejam abaixo. Muito engraçado.

A FAVA ENVENENADA :

EU PRA MUDAR O CARDAPIO
SAI CEDINHO PRA FEIRA
COMPREI DOIS KILOS DE FAVA
GRAUDA  E CONZINHADEIRA
MANDEI BOTAR NA PANELA
COM PÉ DE PORCO E COSTELA
E ELA FICOU DE PRIMEIRA

                 *
LA PELAS DOZE DA  NOITE
EU COM FOME DANADA
BOTEI OS PRATOS NA MESA
CHAMEI LOGO A FILHARADA
TAVA UM CHEIRO DE PIQUI
EU DISSE SÓ SAI DAQUI
DEPOIS DE UMA BARRIGADA

              **
O MEU MENINO CAÇULA
SE VECHOSSE COM O CHEIRO
PORQUE A  MINHA SENHORA
CAPRICHOU BEM NO TEMPERO
ELE QUE É BEM CALADO
MAS NAO SE FEZ DE ROGADO
COMEÇOU  COMER PRIMEIRO
      
               ***
NA PRIMEIRA  COLHERADA
O BAIXIM FICOU ZANOI
LEVOU AS DUAS MAOS NA BOCA
EU  PREGUNTEI O QUE FOI?
UM DISSE É PORQUE TA QUENTE
OUTRO MAIS ESPETIMENTE
DISSE É PIMENTA DO MÔI
               ****
DISSE EU DEIXA COMIGO
QUE VOU SABER O QUE É
MAS QUANDO COMI UM POUCO
FIZ TAMBEM UM RAPAPÉ
COMECEU A PASSAR MAL
A FAVA AMARGAVA IGUAL
 A CABACINHA E COITÉ

         *****

MANDEI BOTAR NO CHIQUEIRO
O PORCO TRAVOU O FOCIM
AS GALINHAS FOI EMBORA
MEU CACHORRO LEVOU FIM
A GATA PERDEU A CRIA
A ONDE O CALDO CAIA
MORREU ATÉ O CAPIM
        ******

E DEPOIS  DO CAPIM MORTO
VEIO UMA VACA QUE COMEU
CAIU EM CIMA DO RASTRO
ATÉ URUBU MORREU
EM CASA FOI UM LAMENTO
O COITADO DO JUMENTO
CEGOU MAIS SOBREVIVEU

          ******

O RESTO DA FAVA CRUA
EU  JOGUEI LA NO TERREIRO
MEU VIZINHO LEVOU PRA CASA
E PLANTOU NO TABULEIRO
DIZ QUE É BOA QUE VENO
NUNCA MAIS  COMPROU VENENO
TA MATANDO É FORMIGUEIRO
            **********

MEU CAÇULA HOJE É RAPAZ
JA TA TRABALHANDO FORA
LAÇA GADO AMANSA BURRO
CORTA O BRUTO NA ESPORA
COM LICENÇA DA PALAVRA
SE ALGUEM FALAR EM FAVA
O COITADO TREME E CHORA

              *******

PRA LHE FALAR A VERDADE
A COISA TÁ RUIM AGORA
SE CHEGO EM CASA COM FAVA
A MULHER QUE ME ADORA
POR MAIS QUE ESTEJA FELIZ
FICA TRISTE CHORA E DIZ
VALEI -ME NOSSA SENHORA !!!!