quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Tutor da Juventude


Tutor da Juventude



A cidade de Reriutaba possui muitos filhos ilustres. Uns nasceram ali mesmo, outros a cidade adotou com carinho dantesco ou vice-versa.

O monsenhor Ataíde Vasconcelos figura entre estas pessoas que fizeram parte da vida de toda comunidade reriutabense.

José Ataíde Vasconcelos nasceu no dia 04 de Junho de 1929 na cidade de Morrinhos-CE. Oriúndo de uma família humilde e forte, trabalhadora e religiosa, despertou-se cedo para seguir o caminho religioso. Aos 15 anos ingressou no seminário na cidade de Sobral, formando-se posteriormente em Psicologia e Teologia em Fortaleza.

Sua ordenação como padre deu-se aos oito de dezembro de 1956 pelo bispo diocesano Dom José Tupinambá da Frota. No dia seguinte homenageou Morrinhos, sua terra natal, com sua primeira celebração. O Padre Ataíde lecionou no Colégio Sobralense até 1963, onde também contribuía na divulgação da palavra cristã na Rádio Educadora do Nordeste.

Tinha um carinho imenso pela juventude e caridade para com os mais necessitados. Fica a lembrança da fundação de um grupo que evangelizou e ajudou aos desabrigados das enchentes do rio Acaraú.

Em Massapê foi pároco de 1963 a 1965, tempo suficiente para semear naquela terra o carinho por toda a comunidade e colher a amizade dos massapeenses.

Em 1965 o bispo Dom Walfrido nomeou-o pároco da paróquia de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro de Reriutaba-Ce. No dia 11 de Abril de 1965 (domingo de ramos) o Padre Ataíde chegou em Reriutaba.

Ainda não tinha chegado neste mundo, mas o conheci em 1975 na minha Primeira Comunhão. Tinha medo dele, não por temor, mas por respeito. Sempre ele queria se inteirar de nossa formação, preocupava-se com o que líamos ou com o que fazíamos. Não se podia maltratar os animais, nem se intrigar. 

Naquela época era comum os meninos brigarem e passarem meses e, até anos, sem pisar ou passar na calçada da casa do outro. Estavam intrigados! E toda a meninada cobrava esta cisão. Quem falasse primeiro era “sem-vergonha”. O Padre Ataíde nos ensinava exatamente o contrário. Perdôe sempre!

Como atender o conselho do padre e ser ao mesmo tempo criticado pelo resto dos amigos ao se perdoar um intrigado?

Lembro-me que aconteceu justamente comigo! Tinha que me confessar para receber Jesus pela primeira vez. Mas tinha um pecado:  Era intrigado do meu primo Marcelo e tinha que dizer-lhe: “Ei...., não sou mais intrigado teu”.  Aquilo era um tormento.

Quando voltava das aulas preparatórias para a Primeira Comunhão na Casa da Providência, como era assim chamado a Escola Normal Nossa Senhora das Graças, desci pela pracinha da matriz, contornei a Igreja e olhei para a casa do Tio Deusdedit, pai do meu intrigado. .....Não tive coragem...., contornei a pracinha de novo e..... “sem-vergonhamente” fui direto falar com o Marcelo para acabar a intriga. Saí correndo sem esperar a resposta. No outro dia lá estava o Marcelo na porta lá de casa convidando para jogar futebol de botão. Acabou-se nossa intriga e também meu pecado. Já estava preparado para a Primeira Comunhão!

E no decurso de nossa vida infanto-juvenil o Padre e então Monsenhor Ataíde estava presente. Seja nas aulas de Ensino Religioso, seja caminhando pela praça da matriz para observar os jovens, aconselhando a não fumar, a não beber e outras coisas mais da época.

Fundou o Lar da Juventude. Uma ampla sala na Casa Paroquial abrigava todas as noites e aos domingos pela manhã jovens de 10 anos em diante para conversar, ouvir músicas, jogar xadrez, tênis de mesa e também ler. Havia muitos livros nas pequenas estantes naquela simples casa.

Quando o Lar da Juventude abria, ecoava da amplificadora a música que ficou gravada em nossa mente que era mais ou menos assim: “Juventude seu nome é beleza, juventude seu nome é amor. Juventude seu nome é graça, é luz é alegria, seu nome é louvor....”

Já estudava em Fortaleza quando recebi a triste notícia da grande viagem do Monsenhor Ataíde. Foi no dia 15 de abril de 1986. Partiu precoce, da mesma forma como precoce foi seu trabalho em prol da juventude reriutabense.

Juventude esta que dele ficou órfã e continuou órfã de um padre que promovesse a harmonia e a divulgação do bem entre os reriutabenses até recentemente.

Após 26 anos da partida do Monsenhor Ataíde, hoje vejo nas ações do Padre Ribeiro, nosso novo pároco, surgir uma nova luz que poderá iluminar melhor os passos dos jovens de minha querida Reriutaba.
  

Luiz Lopes Filho
Fortaleza-CE, 22 de novembro de 2012


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Resiliência


Resiliência

Nestes dias abstraí-me ao ouvir uma conversa de um amigo meu chamado Marcos Thé.  Arquiteto resiliente e criativo; antes explosivo, hoje sereno. 

Em seu celular, desperta a cada hora a seguinte mensagem: “Você merece, poupe-se!

Perguntei: Por que este alerta de hora em hora, Marcos?
– Dr Luiz Lopes, é para eu me poupar das pressões diárias, pois já me fadiguei muito e para ter melhor qualidade de vida, preciso ser mais resiliente.

Muito bem, esta foi a mensagem que se espigou de minha mente em forma de balãozinho de revista em quadrinhos: “Eu também preciso ser resiliente!” Fico na busca contínua do cumprimento de tantas tarefas, de preocupações que não me tanto tangem; de ver um horizonte que está além daquele que me é visível. E assim comecei a me deleitar nos conceitos de resiliência, os quais infra avulto:

Pela Física, a resiliência é a propriedade dos materiais que acumulam energias, quando são submetidos a situações de estresse, como rupturas. Esses materiais, logo após um momento de tensão, podem ou não serem danificados, e não os sendo, terão a capacidade de voltar ao normal.

Pelo Material e Espiritual, é a capacidade que um corpo ou espírito possui de retornar ao seu estado original, que sofreu deformidades devido a um grande choque físico ou emocional;

Na área da Psicologia, é a capacidade de uma pessoa lidar com seus próprios problemas, vencer obstáculos e não ceder à pressão, independente da situação. A teoria diz que resiliência é a possibilidade do indivíduo de tomar uma decisão quando tem a chance de tomar uma atitude que é correta, e ao mesmo tempo, tem medo do que isso possa ocasionar;

Na Administração é a competência do momento. Um profissional resiliente consegue entregar o que promete e é capaz de promover mudanças estratégicas e entender seu valor.

Mesclando estes vários conceitos, podemos descrever algumas atitudes e comportamentos que nos possam fazer da vida mais flexível e minimizar nossas fadigas, como:
• Projete sua vida, seu dia-a-dia, mesmo que não se possa ser colocado em prática imediatamente. Sonhar é o primeiro passo para se concretizar algo e isto minimiza a ansiedade;
• Pratique esportes, mesmo que seja uma simples caminhada diária para aumentar o ânimo e a disposição. Isto nos injeta mais endorfinas e hormônios que promovem a sensação de bem-estar;
• Procure manter o lar em harmonia, relevando certos aborrecimentos como um simples sapato fora do sapateiro ou uma luz acesa para ninguém;
 • Aproveite parte do tempo para ampliar os conhecimentos, pois isso aumenta a autoconfiança;
• Assuma riscos, sem ir tanto à borda de abismos;
• Apure o senso de humor. Sorria com besteiras;
• Quebre a rotina. Não deixe o cinema somente para o domingo;
• Se algo está em caminho torto, volte ao início, flexibilize seus conceitos e volte a percorrê-lo. Assim você estará mais preparado para o imprevisto;

Estes tópicos que tanto circulam pelas redes sociais e pelas “webs” de nossas vidas, já fizeram e fazem-se presentes na vida de muitos conhecidos, onde vou-lhes alguns citar.

Lembro-me bem de Dona Chiquita. Uma senhora já idosa que morava na Rua Siqueira Campos. Cuidava carinhosamente e com orgulho de seus cinco filhos todos com deficiência mental e física. Ela os banhava, perfumava-os, vestia-lhes suas melhores e limpas roupas e os colocava na calçada para assistirem à passagem da  procissão de Nossa Senhora de Perpétuo do Socorro . O peso de sua rotina nunca lhe abateu o sorriso em sua face. Era resiliente!

Lembro-me bem da Ana Simão. Ainda hoje é viva. Criou seus incontáveis filhos com suor diário e contínua dificuldade. Possuía uma venda de refeições num ponto do Mercado Público. Com sol a pino, após encerrar suas vendas, carregava um monte de panelas na cabeça e puxava um cordão de filhos a caminho de casa. Após certo pleito político, ao se posicionar contra um prefeito, foi desalojada de sua banca. Mas foi resiliente. Continuou sua venda pelo lado externo daquele mercado. E não escondeu a coragem e a alegria pela lida diária. Foi resiliente.

Lembro também pelas inúmeras dificuldades em minha casa, seja pelos problemas de saúde de meu pai, pela necessidade de nos ausentarmos para estudar em Fortaleza ou por qualquer obstáculo do dia-a-dia. Certa vez, um juiz despreparado, cético e autoritário tirou injustamente de minha mãe o primeiro lugar no concurso de Cartório de minha cidade. Meses depois, ela mostrou sua capacidade e, novamente passou noutro concurso doutra comarca. Preferiu continuar em nossa cidade, ministrando suas aulas na Casa da Providência e no Alfredo Silvano. Assim ficou próxima a todos nós, investindo  na educação de todos os filhos e na harmonia de nossa família. Assim foi bem melhor. Sua resiliência permitiu-nos melhor formação ética e profissional e a condicionar meu pai a suplantar alguns problemas de saúde. Continua sendo um grande exemplo de mãe e também de resiliência!

Resiliência é dação, é compreensão, é amor próprio e ao próximo. É conscientizar-se de que a vida é adaptável tanto no verão quanto no inverno, tanto no dia quanto na noite.

Busquemos pois ser mais resilientes e programar-se para um 2013 cheio de alegrias, de forças para vencer os obstáculos e, principalmente, para se munir de mais disposição para resolver não somente nossos problemas, mas também de ajudar ao próximo.

Luiz Lopes Filho
09 de novembro de 2012