quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Feliz Ano Novo

Feliz Ano Novo

Mais um ano se vai e com ele muita coisa resolvida, algumas pendentes, outras postergadas soluções para 2012.
O mais importante é que saibamos o teor do efeito espelho. Se sorrimos, encontramos sorrisos em nossa frente, se franzimos a testa, também veremos o reflexo desta imagem, se agimos com raiva, lá vem ela de volta também.
Temos que lapidar nossas ações para com o próximo, sendo mais compreensivos e condescendentes, mais pacientes no trânsito, mais cordiais com nossos pais, mais fraternos com nossos irmãos, seja por laços familiares, seja por laços de Deus.
Assim também o ano vindouro ser-nos-á bem melhor. Roguemos a Ele para que sejamos abençoados em nossos lares com saúde e paz. O resto dependerá de nosso comportamento perante o espelho do dia-a-dia.
Feliz Ano Novo! Muita saúde e paz em 2012!
Porto das Dunas, 28 de dezembro de 2012.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Quintino Cunha - O Pai do Canelau...

Hoje, ao ler sobre Quintino Cunha, lembrei-me do Mestre Piru (Toinho do Seu Filemon), bem como do Curicaca e do Benedito Vale. Vou inteirar-me melhor destes mestres reriutabenses para homenageá-los com suas frases, repentes, marchinhas e feitos engraçados. Enquanto isto, vamos lembrar-nos de Quintinho Cunha:

Quintino Cunha - O Pai do Canelau...
José Quintino da Cunha, nasceu em Itapajé-CE  em 24 de julho de 1875 e faleceu em Fortaleza-CE em 1º de junho de 1943. Foi escritor, poeta cearense e advogado. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Ceará em 1909, e a partir de então começou a exercer a profissão de advogado criminalista. Foi deputado estadual na década de 1910, mas logo desistiu da carreira de político e encabeçou a campanha do Bode Ioiô para Vereador de Fortaleza, fazendo o
animal tirar votos suficientes para ser eleito, caso possível fosse.
Ficou bastante conhecido por seu estilo irreverente e carismático, também
lembrado pelas anedotas que contava. É tido como o mais lendário de nossos
humoristas literários, o maior de nossos poetas cultos. Excêntrico sem ser
esnobe. Feio, mas cativante. Eternamente esquecido, sempre resgatado, figura
ao lado dos grandes mestres do improviso literário ferino, como Bernard
Shaw, Quevedo e Swift, sendo considerado pelo crítico Agripino Grieco "O
maior humorista brasileiro de todos os tempos".
Menino ainda, Quintino Cunha foi convidado a passar uns dias das suas férias
na casa de dois coleguinhas de colégio. Convite aceito, viajou até a casa
combinada onde deveria hospedar-se por alguns dias, com os convidantes
anfitriões. Lá chegando, não encontrou os colegas que haviam viajado para
outro destino, sem deixar recado. As tias idosas dos meninos, donas da casa,
convidaram-no a ficar e aguardar a chegada dos seus sobrinhos. Quintino não
se fez de rogado e ficou, aceitando o convite!
À noite não lhe ofereceram jantar e nem café ou almoço no dia seguinte. Ele
matou a fome com as fruteiras do quintal. Resolveu ir embora dali e o fez,
deixando um bilhete sobre a mesa:
"Adeus casinha da fome.
Nunca mais me verás tu.
Criei ferrugem nos dentes
E teia de aranha no cu."
Já célebre advogado, a fama de Quintino Cunha era grande no Nordeste.
Tinha havido um crime no interior da Paraíba, onde pai e filho assassinaram
um adversário político. Para defendê-los, convidaram o célebre causídico.
Este fez a defesa com muita propriedade conseguindo a absolvição dos réus.
A cidade fez festa de comemoração pela semana, hospedando Dr. Quintino no
melhor hotel. Sua fama correu rápida por todo o município e o feito atingiu
proporções.
Eis que surge no hotel um humilde casal dos sítios afastados. O marido
dirigiu-se ao advogado expondo-lhe o desejo de um desquite, em face dos
desentendimentos do casal. Dr Quintino então pergunta-lhe se este possui
algum bem, alguma propriedade.
- Não doutor, eu nada "pissuo" e trabalho alugado, em sítios alheios.
Vira-se para a esposa e faz-lhe idêntica pergunta, vindo a resposta.
- Doutor, pra que a verdade lhe seja dita eu ainda tenho menos que ele.
Dr. Quintino respondeu-lhes em versos:
"A questão é muito tola!
Aqui mesmo, eu os desquito.
Fique ele com sua rola
E ela com o seu priquito."

Conhecido e até hoje contado pelos frequentadores da Praça do Ferreira, o
causo da defesa do deficiente físico conhecido apenas como Francisco,
apelidado de "Chico Mêi Cu", foi uma das mais famosas proezas de Quintino
Cunha.

Conta-se que nos idos anos 20, um pobre deficiente físico, sem pai nem mãe,
sem eira nem beira, mancava pelas ruas do Centro da pequena Fortaleza, onde
fazia os biscates que lhe davam o pouco para o sustento. Encabulado, quieto
e calado, aparentava não dar importância ao canelau que mangava à sua
passagem: "Chico Mêi Cu!", "Chico Mêi Cu!", "Chico Mêi Cu!". Foram anos de
chacotas.
Certa feita, num ato de cólera, Francisco fez uso de uma peça
perfil-cortante que transportava, e ceifou a vida de um de seus mais
ferrenhos mangadores. Foi detido e de imediato levado à cadeia pública, onde
ficou por um tempo aguardando julgamento.
No dia do juízo, atendendo às súplicas dos que rogavam pela libertação de
Francisco, em defesa deste, fez-se presente diante do Júri o renomado
advogado Quintino Cunha. Após as interlocuções vigorosas da promotoria, que
pedia condenação com pena máxima para o réu, o Juiz deu a vez da defesa, à
qual Quintino deu início:
- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos
Jurados. Em defesa de Francisco eu tenho a dizer que...
(Pausa).
Após alguns segundos de pausa, ele repete:
- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos
Jurados. Em defesa de Francisco eu tenho a declarar que... (Nova pausa).
Após os novos segundos de pausa, ele torna:
- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos
Jurados. Em defesa de Francisco eu poderia falar que...
De imediato o Juiz esbraveja:
- MAS QUANTA DEMORA! O SENHOR IRÁ OU NÃO DAR INÍCIO À DEFESA?
Ao que Quintino replica:
- Repare só, Meritíssimo: Não faz sequer um minuto que eu só me dirijo a vós
de forma respeitosa, e já provoquei vossa inquietação. Agora imagine Vossa
Excelência, o que deve ter passado pelas idéias do pobre Francisco, após
todos esses anos de achincalhamento e mangoça pública
.
Seguindo, Quintino Cunha deu continuidade ao discurso de defesa. E com toda
a eloquência e poder de  convencimento que lhes eram peculiares, conseguiu a
absorvição do réu. Saiu do tribunal carregado nos braços por seus amigos,
rumo ao botequim mais próximo.
Hoje, a maioria dos cearenses não sabe que foi Quintino Cunha. Nem mesmo os moradores do bairro que leva o seu nome o conhecem. Por isso é importante a divulgação destes fatos, para que a memória do precursor da molecagem cearense não caia no esquecimento.

Viva a irreverência cearense! Viva Quintino Cunha!
Luiz Lopes Filho
Fortaleza-CE, 21 de dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Linha do Tempo


Linha do Tempo

Quando buscamos reunir os principais fatos e personagens da história da humanidade desde a invenção da escrita (aproximadamente 3.400 a.C) até os dias de hoje, riscamos uma linha horizontal dividida por séculos. Para pesquisar um período histórico, basta escolher a época desejada na barra horizontal-dividida por séculos. Ao rolar a linha do tempo para baixo, os anos correm para o futuro. Rolando para cima, a linha retrocede no tempo.

Escolhi então algumas fotos de Reriutaba, desde quando ainda era vila até os tempos atuais. Ainda está incipiente, mas já é um primeiro passo para historiar nossa terra, nossos antepassados e os fatos ocorridos naquela cidade.

Eis um segmento fragmentado desta reta do tempo que poderemos encompridar com a contribuição de nossos conterrâneos tanto fotograficamente quanto textualmente:

Ano: 1931 – Igreja Católica


  
Ano: 1945: Casa Paroquial e Praça da Matriz



Ano: 1950: Estação Ferroviária




1961 – Mercado Público e Igreja



Ano: 1964 – Rua 25 de Setembro







Ano: 1966 – Pça do Mercado

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Histórias de Reriutaba pelo Mundo


Estava observando as estatísticas do blog e observei as visualizações das páginas por país. Surpreendi-me pelos acessos diários da Rússia. Um país que renasceu da antiga CCCP (URSS) e hoje se mostra ao mundo por sua beleza ímpar. Tive a oportunidade de visitá-lo agora em setembro e vi o quão a arquitetura é preservada e sua história é vivenciada.


  
Pelas ruas de St Petersburg, antiga Leningrado, observa-se que as russas desfilam na Nevsky Prospect (Не́вский проспе́кт) com muita elegância e simpatia. Com quatro quilômetros de extensão, a Nevsky mostra uma série de contrastes. Você pode encontrar tecnologia e moda do mundo moderno encaixotadas em históricos e belos edifícios. Há excelentes restaurantes como o Palkin que condensa em seu menu o chame, a atmosfera, a diversidade de pratos, o impecável serviço e um preço convidativo numa experiência que ninguém pode deixar de desfrutar ao se visitar a Veneza do Báltico.





Pois é, dos demais países, lembro-me ter várias pessoas conhecidas sejam amigos ou conterrâneos morando no exterior, mas na Rússia nunca soube. Obrigado aos acessos vindos do exterior. Aguardo críticas para melhoria de nossas páginas.

Visualizações de página por país

Brazil
2.220
Russia
69
United States
45
Germany
33
Italy
11
Norway
4
Canada
1
United Kingdom
1
Japan
1
Latvia
1


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Puas de Ouro



Puas de Ouro



Por volta dos anos 80 iniciava-se um novo ciclo em nossas vidas. De meninos de bicicletas, baladeiras e bola, passamos a saber o nome das meninas mais bonitas da praça e a frequentar um barzinho. Um dos primeiros foi o do Tiúba.  Ficava na Rua 25 de Setembro numa antiga casa de sobrado do seu Zezé, esposo da dona Lessinha. Com o dinheiro contado, experimentávamos uma dose de cachaça serrana com tira-gosto de metade de um limão. O Fernando Aguiar e o Marcelo foram os primeiros a provar a pinga e a se sentirem homens, franzindo a testa e estalando os dedos da mão direita no virar da primeira dose. O bar ficava no pavimento térreo de um sobrado em estilo colonial com janelas verdes de madeira mofada e paredes amarelas desbotadas pelo sol e pelas primeiras chuvas. Tinha quatro janelas no pavimento superior e, entre elas, três bocas de jacarés.  Era pelas bocas de jacarés que tomávamos banho de bicas em dias de chuvas pelas calçadas de minha cidade.
O carnaval chegava junto com as chuvas, era fevereiro e tínhamos 17, 18, 19 anos. Nossos pais, ainda novos, procuravam organizar as bandas e orquestras que iriam tocar no Reriutaba Clube. Ficávamos apreensivos se a banda municipal sob a liderança do seu Marçal iria dar conta da festa ou um novo conjunto vindo da capital aceitaria firmar o contrato com o clube da sociedade local com poucos sócios e pouco dinheiro.
Banda de música municipal


Tentávamos também contribuir para alegrar a cidade e, no afã e no orgulho da juventude, fundamos um bloco carnavalesco. Como se chamaria? Puas de Ouro!
Na época os componentes eram o Marcelo, mais integrado com músicas, emissoras de rádio, mais afoito com as garotas da sociedade; o Paulo, mais calado, porém mais danado com as meninas beiradeiras; o Zé Júnior também era ao estilo do Paulo; o Tarciano e o Paulo Filho, principiantes na turma; o James num estilo mais irreverente e o Zé Carlos Cabaceira mais introspecto, além de mim, o mais tímido, porém mais entusiasmado com o período momino. Em nosso bloco também se inscreveram crianças que nos seguiam os passos, como o Felipe e o Aguiarzinho.


Aguiar Neto, Paulo Filho, Zé Jr, Luiz Filho e Felipe Aguiar

Compramos tecido nas Lojas do Povo do seu Chaguinha e pedimos nossas mães para fazer uns macacões verdões. Depois fomos à tia Terezinha Memória que se prestou de seus dons de pintura e silk-screen para tornar nossos trajes mais vivos com o nome de nosso bloco. O resto era conosco; saíamos pelas rádios do Ipu e de Sobral, divulgando o carnaval de Reriutaba, o que gerava certo ciúme ao bloco doutros amigos, o chamado Bigode Preto, com maior número de componentes.



O símbolo de nosso bloco era uma raiz retorcida que mais se parecia com uma pua de madeira. Pintamos a pua e a enfeitamos com purpurina e areia prateada. Provavelmente nos tenham muito chamados de tolos, mas o que nos importava era nossa folia e diversão. Sempre saíamos em grupo, seja para a cidade vizinha do Araras, para as vesperais da AABB do Ipu, para a Cachoeira do Boi Morto, para a Cachoeira do Juré e também para os bares da cidade.


Felipe Aguiar, Mardônio, Tarciano, Zé Carlos, Paulo Filho, Luiz Filho, Zé Jr e Marcelo
A pua, ícone de nosso bloco, ainda se encontra guardada num depósito lá na minha casa de Reriutaba. Estive lá recentemente e a vi, desolada, deitada como se estivesse de ressaca dos carnavais passados.
 
Os bares que mais frequentávamos naquela época era o bar do Bá, situado ali quase defronte à saudosa Providência, que antigamente era uma instituição de ensino renomada e que quase todos ali estudamos. Pouco sobrou da Casa da Providência...!
Voltemos ao Bar do Bá: atendimento excepcional e um cardápio ímpar com camarões, filet trinchado com torradas, feijão verde com queijo e uma cerveja super gelada. O Edmar havia chegado do Rio de Janeiro recentemente e introduziu muitos petiscos dos cardápios cariocas. E gritava com meio sotaque carioca para a cozinha do bar: - Dessce aí um filet trincchado!
Mas o bar que mais provocávamos bagunça era no bar do João Abraão. Também recém-chegado do Rio de Janeiro, trouxe um pouco de sotaque e um bom cardápio ao seu bar que na realidade era um pequeno mercantil, que de sexta a domingo transformava-se em nosso ponto de encontro. Num desses carnavais, creio que no de 1990, estávamos todos no bar quando alguém saíu dos fundos do bar numa bicicleta pulando dos degraus e voando por cima das mesas como naquela cena do filme E.T. Foram-se garrafas de cerveja pelos lados e gargalhadas por todas as mesas. Ninguém se machucou, mas iniciou-se uma guerra de ovos que o João Abraão não se incomodava. Apenas contabilizava num caderno de espiral Tilibra, tirando sempre a caneta Bic da orelha direita, dizendo: - Dezoito ovoss.....Crasssh (mais um tiro de ovo).....Dezenove ovosss.....! Outro amigo gritava: - João Abraão fecha a conta! – Ok, garoto!....3 segundos depois:...um ovo atingiu o peito do João Abraão e ele logo fechou a conta, dizendo: Agora são trinta ovossss. Muito paciente, sempre aturou a bagunça em seu bar, talvez porque nunca saía no prejuízo......pelo menos de ovosss quebrados!
Terminávamos a bebedeira no bar do Luís Fulô e por ali nos reunimos até poucos anos atrás, quando um de nossos amigos dos Puas de Ouro teve seu nome solenemente anunciado pelo Chico da Dó no palco de uma festa no pé-da-serra.  


Bar do Luís Fulô

O Luís Fulô que ía passando por trás do microfone, saudou o nome do amigo com um estrondoso barulho na boca do microfone como numa irreverência ao solene anúncio do Chico da Dó! Foi intriga de não mais frequentar o bar do Luís. Nós continuamos frequentando o barzinho, contrariando nosso amigo Marcelo, que hoje já não leva em conta a brincadeira do Luís Fulô,  apenas ri daqueles fatos.
Luiz Lopes Filho
Fortaleza-CE, 08/12/2011.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Made in Reriutaba



Made in Reriutaba

Quando vejo aproximarem-se os tempos de eleição, antecipo-me sobre os fatos que se repetirão no dia-a-dia de uma cidade pobre do sertão nordestino. Compra de votos, promessas, intrigas, pseudo-amizades, calúnia... e tudo mais que se puder utilizar de ferramentas para se galgar os poderes executivo e legislativo municipais.

Não me refiro unicamente à minha cidade, mas a quase todas as cidades brasileiras e, em especial, àquelas que dependem praticamente de tudo do poder público, principalmente de empregos.

Todos querem participar da folha de pagamentos do município. A prefeitura já fragilizada por poucas verbas, vê-se no amor materno de ceder uma vaga de emprego a um munícipe, em detrimento das melhorias comuns, seja na infraestrutura, seja na saúde, seja na educação.

Para isto, tem-se uma solução: a sustentabilidade econômica do município por sua vocação agropecuária ou industrial. Tem que se oferecer incentivos fiscais para que a iniciativa privada e as instituições de fomento instalem indústrias nestas cidades. Assim, o governo municipal irá administrar sua cidade sem o peso da folha de pagamentos e com uma população menos pobre, com maior geração de empregos e renda.

Antigamente víamos caminhões a caminho de Sobral, transportando cera-de-carnaúba, castanhas-de-caju, oiticica, algodão e chapéus de palha. Hoje, estes caminhões fazem o percurso inverso: trazem até ovos de granja para as pequenas cidades. Quase nada se produz, quase tudo que se consome vem dos grandes centros.

Um amigo meu aqui em Fortaleza, mostrou-me um velho rótulo de um produto “Made in Reriutaba”, dizendo-me: - Rapaz, não sabia que Reriutaba possuía indústrias...olha aí um produto genuinamente reriutabense!!! Comecei a rir!....


Um dia espero que isto aconteça: indústrias de calçados, beneficiamento de frutas e o que se puder instalar em prol do desenvolvimento de nossa cidade.

Luiz Lopes Filho,
Fortaleza-CE, 06/12/2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Quando menos se espera, já é dezembro novamente!


Sempre quando leio algum poema de Mário Quintana, meus pensamentos permeiam imagens de uma calçada, de uma janela simples, de uma tarde que se vai.

E posso, de certa forma, parafrasear o famoso poeta de Alegrete-RS no poema Esconderijo do Tempo:

“Quando menos se espera já é meio-dia, já é dezembro e então chegou janeiro novamente e lá se foi grande parte de nossas vidas; vivamos hoje!”

A imagem do autor nos remonta às conversas de calçadas de nosso interior, onde outrora a imagem das telenovelas era bem menos atrativa do que o bate-papo com os vizinhos. Nesta foto de Mário Quintana, podemos extrair um pouco destes pensamentos.



SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente ...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
( Mario Quintana ) ( In: Esconderijo do tempo)

E a imagem de uma reunião com amigos numa tarde de sábado no boteco da rua Professor Anacleto, também substitui o teor do poema “Esconderijo do Tempo”. Nesta foto recente, mas que já debuta com seus quinze anos, já podemos ver o quão já envelhecemos e já não podemos mais conviver com o saudoso tio Fernando Taumaturgo. Homem polêmico, às vezes de posições pouco amistosas, mas que fez parte de nosso convívio de forma saudável e alegre.
Eis então o time da esquerda para a direita;
Fernando Taumaturgo, Massilon Freitas, Osvaldo, Valmik, Luiz Lopes, Atendente, Joaquim Taumaturgo, Valmik Filho, Boto Cruz e nosso amigo Dibiriu.





quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Educação Física na Casa da Providência


Aquela atividade escolar não me era tão atrativa, mas fazia parte do currículo escolar e tinha chamada todas às quintas-feiras.

A quadra de mosaicos tinha tons encarnados e uma forte aspereza que a tornava uma lixa dura e quente pelo calor causticante de setembro. As traves eram de tubos metálicos, formando um gol de 3 metros de largura por 2 metros de altura. Seu apoio tinha formato em “L”, o que não garantia ficar sempre em pé. Vez por outra, ouvia-se o grito: “são du mei, a trave tá virando”. Também não tinham redes, o que nos obrigava a buscar a bola quando se marcava um gol ou se chutava muito forte em linha de fundos.

Sua marca se fazia presente nos arranhões de joelhos. A ponta dos dedões dos pés também carregavam a crueldade daquela quadra esportiva, seja no brilho da salmora sobre os pés, seja nas bolhas de queimaduras sob os mesmos. Tudo pelo sacrifício de jogar futebol de salão na quadra descoberta do Colégio e Escola Normal Nossa Senhora das Graças, conhecida por Casa da Providência e que fora responsável pela educação e boa formação de muitas gerações.

Quinta séria do primeiro grau, antigo currículo escolar do MEC. Esta era minha série. Dez a onze anos de idade; corpo entroncado, humor de poucos amigos. Vestíamos um calção azul marinho de algodão com duas listras brancas de um centímetro de largura em cada lateral. No cós, elásticos compridos comprados na mercearia da Dona Tonha Luca.

Dona Tonha Luca era a irmã mais velha e, digamos, gerente do armarinho; a outra era a Dona De Lourdes, mais meiga e amável, ajudava-a a despachar os clientes. Era um prédio de seis portas, quatro portas abertas pelo galpão dos feirantes e duas voltadas para a farmácia do Seu Zé Aguiar. Possuía uma pintura amarela nas paredes externas e uma pintura à base d’água na cor azul-bebê que despontava por detrás das prateleiras entupidas de linhas, brinquedos, artigos de costura, botões e tudo mais que se pensasse em miudezas. A Dona Tonha Luca já partiu, mas a Dona De Lourdes ainda está no nosso convívio, já velhinha, mas sempre sorrindo na calçada de sua casa. Hoje o armarinho já não pertence mais à família Luca Torres, hoje é de outro comerciante. Os bens na realidade não são de ninguém neste mundo; apenas deles tomamos conta enquanto a posse circula entre mãos familiares. Mas quando é trocado por moeda, desfaz-se tão rápido como acetona ao ar livre. Dona De Lourdes gostava muito de cumprimentar-me sorrindo, de perguntar se meu pai estava bem, de perguntar se eu já tinha me casado. Acho que fazia isto apenas por carinho e por sentir saudades de minha tia Beatriz que também já tinha partido e deixara Dona de Lourdes sem companhia de conversa de calçada, já que moravam uma de frente para a outra. A tia Beatriz na parte baixa da rua 25 de Setembro e a Dona de Lourdes do outro lado da linha férrea.

Bom, mas voltando à aula de Educação Física e também à nossa farda, calçávamos um tênis preto, conhecido nacionalmente como “quichute”, cujos cadarços, de tão longos, tínhamos que dá o nó e, do restante, enrolar a sobra, dando volta nas canelas. A camiseta sem mangas era branca somente sem nenhum detalhe, brasão ou nome do colégio. Cinco da tarde, o sol baixava por detrás do muro da quadra da Casa da Providência, deixando algumas sombras na áspera e quente quadra.

Após alguns exercícios de aquecimento sob a autoridade do soldado Araújo, professor designado e recrutado do batalhão de polícia da cidade, cujo contingente ficava prejudicado pela metade nos horários de educação física, os dois melhores jogadores escolhiam seus times e, os menores ou menos aptos nos dribles, ficavam por últimos, completando as equipes.

Mediano, eu ficava como zagueiro juntamente com o Marcelo, um primo meu que mal sabia chutar uma bola e os Tatás, os únicos gêmeos do colégio; um mais calmo chamado Aldemir e outro mais peralta, o Laldemir. No meio de campo e ataque, estavam o Evaristo do Seu Salim, o Gilvan do Seu Gerardo Braga, o Massilon (não sei mais seu paradeiro, lembro que morava na Rua Siqueira Campos); o Dibiriu e o Gerardo do seu Toim Mororó. Acho quem jogava pior era o Marcelo que se distanciava da bola uns 4 metros, corria em linha reta e chutava em ângulo reto, como aqueles bonequinhos de madeira de jogo de totó. Os tatás eram gêmeos e riam por tudo, até quando sofriam um gol e, em dupla sempre levavam vantagem nas brigas que, por qualquer motivo, sempre aconteciam.

Foi num destes dias que me destaquei. Não como zagueiro, nem muito menos como atacante, mas como lutador de luta livre. Ao chutar uma bola, ergui muito a perna e o velho calção rasgou-se, arrebentando a costura inferior e tornou-se uma saia. Logo que viram meu calção totalmente rasgado, com os panos da frente e de trás separados, os Tatás abandonaram a bola e correram na minha direção: “mulherzinha-á, de sainha-á!”. Fiquei vermelho de raiva, correndo atrás de cada um dos Tatás que queriam rasgar ainda mais meu calção, arrancando gargalhadas de todo mundo, do time adversário e dos que assistiam à partida, esperando por sua vez de jogar.

Aceitei um chute no traseiro de um dos Tatás que ele caíu, arranhando o joelho e saindo da quadra. O outro Tatá ainda me insultando, continuava a gritar; “Mulherzinha-á, de saínha-a! Acertei um soco no Tatá, puxei o cabelo dele numa rodada que foi ao chão. De repente, todos pararam de rir e passaram a gritar meu nome como se erguessem meus braços como vencedor da luta, gritando: “- Égua Tatá, apanhou do Luiz Filho.., égua...!.”.

Fomos expulsos da aula de educação física pelo soldado-professor, mas daquele dia em diante, os Tatás passaram a ter medo de apanharem novamente de mim.

À tardinha, por volta das seis horas, voltava para casa. Descia a rampa da escola, atravessava a pracinha que fica ao lado da Igreja da matriz, donde se ecoavam pelas amplificadoras as músicas religiosas do Padre Zezinho, marca sonora maior daqueles tempos de infância, como Utopia, Maria de Nazaré e outras daquela coletânea chamada de Um Certo Galileu.
 Aspecto do entardecer em Reriutaba, entoando as canções do Padre Zezinho por duas amplificadoras que visualizamos nas ombreiras da fachada principal da igreja.

Como estava com o calção rasgado em formato de saia, desci rapidamente e evitei a pracinha, contornando o quarteirão pela rua do seu Zé Taumaturgo e dobrando a esquina da dona Artemísia. E assim findou um dia em que tive tanta raiva, mas que hoje guardo como uma boa recordação de infância.

Lembrança da Casa da Providência


Luiz Lopes Filho
Fortaleza-CE, 28 de novembro de 2011




quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Hoje Salvei um Camaleão


O Camaleão (família Chamaeleonidae) ou teju é um animal de uma família de répteis escamados, e uma das mais conhecidas famílias de lagartos. Há cerca de 80 espécies de camaleões, a maior parte delas na África, ao sul do Saara. Os camaleões são conhecidos por sua habilidade em trocar de cor conforme o ambiente, por sua língua rápida e alongada, e por seus olhos, que podem ser movidos independentemente um do outro. O nome "Camaleão" significa "leão da terra", e é derivado das palavras gregas Chamai (na terra, no chão) e leon (leão). É um lagarto bastante antigo, já que há registros fósseis de camaleões desde períodos tão longínquos quanto o Terciário.

Hoje pela manhã, estava correndo pelo parque do Cocó, mas precisamente pelo calçadão do shopping Iguatemi, quando fui chamado pelo Dr. Ary Campos, pai de um amigo meu. Daí, diminuí os passos e conversei um pouco com ele por uns cem metros de caminhada.

De repente, vi à nossa frente aquela criatura esquisita e mal encarada, de pele escamada, papada saliente assemelhando-se àquelas pessoas que querem impor respeito pelo pescoço. Tinha uma cor acinzentada e, assustada com nossa aproximação, apertou os passos e correu. Tentou passar pelos espaços abertos da tela que delimita o Parque do Cocó com o shopping.  Deu-se mal, então: ficou preso! Sua cabeça passou, seu papo não e, num desesperado mimetismo, mudou de cor. Ficara verde igual à tela da cerca metálica que o prendia. Parei e pensei falando: – Vou tentar ajudá-lo! puxei-o pela cauda, mas nada, o bicho retraía ainda mais seu corpo pensando que iria maltratá-lo ou mesmo devorá-lo. As pessoas começaram a assistir àquele resgate do teju. Puxei um pouco mais sua cauda, segurei sua pata traseira e, rotacionando seu corpo como um parafuso estrompado, tentava soltar sua crista encrespada de medo.

Coitado, o teju ficou preso à cerca pela sua própria crista, como um peixe a um anzol por suas guelras. Pressionei seu corpo, puxei novamente sua pata traseira e saquei o pobre animal da cerca.

Icei o teju pelo rabo, dependurando-o verticalmente. Media uns setenta centímetros. Sua cor agora era novamente acinzentada. Olhei para ele e para as pessoas que ali nos assistiam. Ele revirou um olho para mim e outro para as pessoas, como quem pensava: -Este cara não vai me soltar não?.

Seu Ary ajudou-me a encontrar uma fresta entre a tela e o chão, buscando um escape para o bicho. Mostrei-lhe o caminho do mangue e o animal saíu correndo em desespero mata a dentro. As pessoas que nos assistiam começaram a bater palmas. Senti-me um momentâneo herói ecológico! Fiquei pensando depois: será que estas pessoas me aplaudiriam se me vissem ajudando com um cobertor ou com um copo de leite um desprezado mendigo de rua? Provavelmente, não! É o poder midiático da proteção aos animais muito superior à caridade para com o próximo. Não quero aqui mitigar nossa consciência ecológica de proteção aos animais e ao meio-ambiente. Porém, temos que dar mais atenção a nossos semelhantes que não têm teto e vivem desamparados pelas ruas, sem família e sem conforto. E que esta solidariedade não se restrinja somente nesse mês de dezembro que se aproxima!.

Mas, voltando ao ator principal, o famoso teju, lembrei-me de uma expressão que ouvi no sertão alagoano: Sela o teju! que significa ir embora bem rápido. Hoje realmente vi o que é selar o teju, pois o bicho fugiu numa velocidade incrível se embrenhando pelas folhas do Parque do Cocó!

Luiz Lopes Filho,
Fortaleza-CE, 24/11/2011




















terça-feira, 22 de novembro de 2011

Cacimba da Viúva


Sempre que havia algum feriado próximo a um final de semana, tomávamos o rumo de Reriutaba logo na sexta-feira e, após a feira de sábado, reuníamo-nos no barzinho do Luís Jr, nosso amigo Tauma. Pessoa serena, de  tranquilidade infinita e que só se irrita se alguém lembrá-lo que de que não é estressado, e sim um sujeito muito calmo e tranqüilo.

Era 19 de maio de 2001. Ali estávamos eu, Joaquim Taumaturgo, Chico Basil, Antônio Coelho e Assis Júnior.

O Luís Jr. estava ali ao nosso lado e, entre uma cerveja e outra, morria de rir do Joaquim abraçado com o Chico Basil, cantando a Cacimba da Viúva, pérola do compositor Edson Duarte, cuja letra lembro-lhes abaixo: 



Cacimba da Viúva
 Arrebentaram a pinguela da viúva
do finado Mané do Cacimbão

Água agora só da chuva
A cacimba não tem água mais não

Quando o finado Zeca ainda era vivo
Tudo bem era bom conservador
Era prego na pinguela todo dia
Dava água e nunca se incomodou.

Mas a Viúva achando um desaforo
Uma falta de consideração
Já falou em fechar sua pinguela
Diz que em breve vai pôr tudo no chão

Botou pregos, arames e madeiras
No lugar que passava, pôs cancela
Nem que morra na vila, tudo seco
Ninguém mexe mais na pinguela dela

É Na pinguela dela, é na pinguela dela
Água lá nem de moringa
Passa na pinguela dela.